2008-06-24

Susan Neiman: Moral Clarity



Há algum tempo que queria escrever neste blogue sobre este livro magnífico, publicado em Maio/2008, mas a introdução deste tema abstracto, num blogue que se baseia em imagens encadeadas ao sabor das divagações do autor, não foi fácil.

Tentarei ser tão claro como o título: este livro tem como tese central que o mundo em que vivemos pode e deve ser melhorado. Existem provas abundantes mostrando que isso já aconteceu muitas vezes mas não existem garantias de que vamos continuar a melhorar. Existe sempre o risco de que o mundo em que vivemos piore. Dadas estas circunstâncias, todos os seres humanos são chamados a dar a sua pequena, média ou grande contribuição para que o mundo possa continuar a melhorar.

A tese pode parecer relativamente banal mas existem muitos filósofos que se encerraram num pessimismo extremo e que não a subscrevem. É também muito frequente a referência à imutabilidade da “natureza humana”, um apelo à resignação, já para não falar das tendências maníaco-depressivas de muitos elementos da sociedade portuguesa.

A autora é uma filósofa americana nascida em Atlanta com uma entrada na Wikipedia e um site na Internet. Tem outros livros, nomeadamente o “Evil in Modern Thought” publicado em 2002, de que existe tradução em português “O Mal no Pensamento Moderno”, editado pela Gradiva em 2005. Sempre que possível é melhor optar pelo original.

A autora tem um grande fascínio pelo pensamento iluminista sendo muito influenciada por Kant. O “Mal no Pensamento Moderno” deve por assim dizer a sua génese ao Terramoto de Lisboa de 1755 e às acesas discussões filosóficas originadas por este evento e pela dificuldade em compatibilizar a existência de um Deus bondoso e intervindo permanentemente no mundo, com a ocorrência de uma desgraça da magnitude do terramoto, num país católico frequentemente intitulado “nação fidelíssima” pelo Vaticano.

A excelente recepção que o livro teve encorajou a autora a avançar para este novo livro, em que a filosofia, além de nos permitir compreender melhor o mundo em que vivemos nos fornece ferramentas para o transformar. O título do livro “Moral Clarity” tem origem numa expressão cara à direita americana que julgo não ter a mesma conotação em Portugal. A autora considera que a esquerda deixou que a direita se apropriasse indevidamente do conceito de Clareza Moral e receia mesmo que as mentiras e corrupção da administração Bush acabem por desacreditar um conceito essencial à construção de uma sociedade mais justa.

Depois de uma introdução com um texto extraordinário que está acessível na net aqui (e cuja leitura recomendo vivamente) e depois de estabelecer a distinção entre o que é e o que devia ser a autora visita as virtudes do Iluminismo, nomeadamente a Felicidade, a Razão, a Reverência e a Esperança e termina o livro com uma referência à Odisseia, apresentando Ulisses como o herói com as qualidades do Iluminismo, passando pelas ferramentas que nos permitem identificar o Mal, falando de pessoas actuais que podem ser considerados heróis e encerrando incitando o leitor a não se resignar com situações que não lhe pareçam justas.

Na identificação do Mal a autora diz que ainda não encontrou nenhuma forma simples de definir o mal e que está convencida que qualquer definição simples falhará a tarefa. A identificação do mal é uma tarefa de interpretação laboriosa e de discussão de nuances e detalhes. Temos asssim uma notícia boa e uma notícia má para o Lutz, quando escreveu este post: a notícia boa é que ele tem razão ao escolher “...negociar caso a caso o que pode ser permitido e o que deve ser proibido” A notícia má é que provavelmente não haverá forma de fugir a essa trabalheira.

A imagem das 3 agaves do post anterior, destacando-se verticais e isoladas pode-nos levar a pensar nas pessoas corajosas que se expõem para defender um ponto de vista que consideram justo.

Para este post seleccionei a imagem de fim de tarde que aparece no seu início, cujo horizonte muito nítido e luminoso me pareceu adequado ao conceito de Clareza Moral.

1 comentário:

Bhixma disse...

Já encomendei o livro...