2008-09-27

Belo, Bonito e Esquisito

Pensei que na sequência de um corpo nu e de um corpo envolto num vestido o próximo elemento da sequência deveria ser um vestido sem corpo, neste caso revestindo um manequim.

Trata-se de uma foto que tirei duma montra de Manhattan e que a Sara Pais tinha gentilmente publicado aqui.





O vestido faz lembrar um Origami, tema já abordado neste blogue aqui e aqui e conjecturo se terá sido desenhado pelo Issey Miyake de quem recordo ter visto uns vestidos muito originais com umas pregas como as dos origamis, embora às vezes também fizessem lembrar as saias plissadas da minha juventude de que tenho má memória. Na busca duma imagem parecida passei pelo site deste estilista e fiquei muito bem impressionado com a qualidade da apresentação.

O vestido fez-me também pensar na relação difícil que os Portugueses têm com as coisas boas.

É-nos difícil dizer que algo é belo, a palavra é usada quase exclusivamente antes de um substantivo mas aí no sentido da perfeição, como num belo jantar ou num belo passeio. Neste caso será talvez um pouco mais que bom. Soaria pretensioso dizer que "este vestido é belo".

Poderemos dizer que é um vestido bonito mas aí podemos ser interpretados como querendo dizer que é uma coisa "bonitinha" dir-se-ia que um pouco kitsch.

Mas onde as conotações portuguesas correm verdadeiramente mal é na evolução etimológica do significado de "esquisito", outro dos adjectivos possíveis de aplicar a este vestido. Enquanto que o "exquis" francês, o "exquisite" inglês e o "exquisito" espanhol (dizem-me que também o alemão) significam todos algo extremamente requintado e fora do comum, em português o significado limita-se a caracterizar algo como estranho, fora da norma e mesmo nalguns casos como algo estragado (como em "está com um gosto esquisito"). Os compatriotas teriam tido assim um grande convívio com a labreguice, sendo incapazes de reconhecer as grandes qualidades das coisas requintadas.

P.S. Ontem estava bloqueado. Dizer "o vestido é lindo ou lindíssimo" resolve a questão.

1 comentário:

abrunho disse...

NUnca tinha pensado em esquisito dessa forma. Interessante explicação.