2010-06-30

Outra vez o Oriente

Alguns dos origamis do post anterior requerem o corte e/ou colagem de papel, o que é considerado não ortodoxo por algumas pessoas que defendem que apenas se pode recorrer à dobragem.

Em português retivemos a expressão “paciência de chinês” mas também poderíamos ter adoptado “paciência de Japonês” dada a persistência e perfeccionismo dos artesãos japoneses. É uma qualidade que me atrai, pela busca da perfeição e que ao mesmo tempo me intimida, pelo seu aspecto quase obsessivo.

A propósito dos voos do post anterior lembrei-me destes pássaros de madeira japoneses, duma exposição temporária de “omocha” (brinquedos tradicionais do Japão) no Museu do Oriente, que apresento primeiro numa foto de conjunto




e depois separados em três imagens independentes










Ainda no mesmo museu mas na exposição permanente estão estas jarrinhas de não mais que 5 cm de altura, que pertenceram a Teixeira Gomes, presidente da 1ª República, que poderiam servir para guardar rapé (tabaco em pó para inalar) ou como pequenos bibelots. Fazem justiça à expressão “paciência de chinês”.











A qualidade das imagens não é grande coisa, porque foram tiradas com o telemóvel, mas dá uma ideia do que se trata.

Para finalizar deixo uma imagem do exterior do Museu do Oriente em Lisboa, conversão muito bem sucedida de um antigo armazém frigorífico, em que dizem que a cobertura é de folha de ouro, para reflectir melhor o Sol Poente e presumo que também o Nascente.
Será mesmo ouro?



2010-06-28

Atmosfera protectora

Uma pessoa está rodeada de tantas novidades que por vezes elas passam despercebidas. Uma aplicação relativamente recente é o uso de “atmosferas protectoras” para retardar a deterioração de produtos perecíveis como, por exemplo, saladas e fruta descascada. Um dos métodos é aumentar a percentagem de azoto e reduzir a de oxigénio. É dessa forma que se consegue manter fruta descascada dentro de um recipiente sem que ela oxide, mantendo o aspecto fresco.

Outra aplicação da atmosfera protectora é nas sanduíches, possibilitando a manutenção da frescura do recheio durante mais do que um dia. Andando um bocado farto do pão com um panado que há uns anos começaram a servir na TAP nas viagens curtas na Europa, tenho ultimamente passado por um supermercado antes de ir para o aeroporto, adquirindo uma sanduíche embalada em atmosfera protectora, que aprecio mais do que o tal pão com panado da TAP.

Desta vez reparei, na atmosfera ligeiramente rarefeita do avião, que a embalagem da sanduíche era verdadeiramente estanque, parecendo um balão inchado, como se pode constatar na foto

2010-06-26

O sentido da vida

Nunca fui grande entusiasta de futebol, durante algum tempo limitei-me a ver os jogos do Europeu e do Mundial, mas cada vez tenho mais dificuldade em suportar a ansiedade durante os 90 minutos de um jogo como condição necessária para os muito breves momentos de alegria (quando ocorrem).

Quando disse isto a um indiano, quando ele referiu que neste Mundial estava a começar a achar interessante o jogo de futebol, que não é muito popular na Índia, ele disse-me que achava os 90 minutos uma grande qualidade do futebol. No cricket também há essa ansiedade só que se estende, por exemplo, das 9 da manhã às 5 da tarde!

Oscilo actualmente entre a via do Nirvana (nem sequer ver o jogo) ou, numa versão mais ocidental, ver os últimos 20 minutos ou meia-hora. Gasto menos tempo, poupo na ansiedade e limito a observação a quando as equipas estão eventualmente a dar o tudo por tudo.

Gosto também nestas ocasiões de citar esta passagem do Umberto Eco:

"...pedi várias vezes ao meu pai, equilibrado mas constante adepto, que me levasse consigo a ver o desafio. E um dia, quando observava com distanciação os insensatos movimentos lá em baixo no campo, senti como se o sol alto do meio-dia envolvesse com uma luz enregeladora homens e coisas, e como se diante dos meus olhos se desenrolasse uma representação cósmica sem sentido. Era aquilo que mais tarde, lendo Ottiero Ottieri descobriria como o sentimento da "irrealidade quotidiana", mas, então, tinha treze anos e traduzi a meu modo: pela primeira vez duvidei da existência de Deus e considerei que o mundo era uma ficção sem objectivo. ..."

em O MUNDIAL E AS SUAS POMPAS, escrito por Umberto Eco em 1978, inserido no livro "Viagem na Irrealidade Quotidiana".




Quando se colocam dúvidas sobre o sentido da vida, existe sempre a via do artesão, que mantém as mãos e a mente ocupadas em actividades construtivas.

Neste caso uns pequenos origamis, um sampan e um pássaro, que fiz com as duas metades de uma saqueta de açúcar e que fotografei sobre os meus dedos, para dar uma ideia do tamanho dos objectos, seguindo a ideia dos arquitectos gregos, de considerarem o homem como medida de todas as coisas.




Depois fotografei o sampan com um pouco mais de detalhe.


2010-06-22

Identidade e Violência – A Ilusão do Destino

A referência que fiz ao arcebispo de Cantuária no penúltimo post fez-me pensar em Amartya Sen, autor de origem indiana, prémio nobel da economia, cidadão do mundo que se insurge neste livro, escrito em inglês e editado em português pela Tinta da China em 2007, contra a política do multiculturalismo que tenta encerrar cada criança na comunidade em que nasceu, dificultando a sua integração na sociedade de acolhimento.

A argumentação principal diz que todos nós pertencemos a muitos grupos que constituem a nossa identidade e em classificar como errado e muito perigoso eleger apenas um desses grupos como a característica essencial que distingue os seres humanos.

Nessa situação é possível fazer uma classificação dicotómica, os nós e os eles, o que cria tentações, que não ocorrem quando as múltiplas classificações se sobrepõem.

Reconheço alguma dificuldade na aceitação desta tese para pessoas que vivam intensamente a sua religião, pois tenderão a considerar essa pertença como mais importante que qualquer outra.

Gosto da forma como ele escreve, aprecio a contribuição não ocidentocentrica e acho que é um homem de boa vontade. Recomendo a leitura.

Prémio Charme


Recebi este prémio do blogue tranquilo Expresso do Oriente, que aqui agradeço.

2010-06-15

Moda em Shiraz

Continuando as minhas primeiras impressões de uns poucos dias num país de 70 milhões de habitantes e um milhão e 600 mil km2 de superfície, mostrarei agora umas lojas de roupa que observei num passeio nocturno no centro da cidade de Shiraz, que foi em tempos capital da Pérsia, tendo actualmente 1,2 milhões de habitantes.

Continuo fascinado por estes exércitos de manequins, e continuo a notar muita tolerância por parte da polícia dos costumes em relação às cores garridas das camisas, ao seu corte ousado no que diz respeito ao pequeno comprimento das mangas e à necessidade de expor tantas calças de ganga vestindo ou um modelo completo ou mesmo apenas a parte inferior. Parece haver aqui também alguma falta de imaginação dos compradores para visualizar o aspecto final vendo apenas as calças dobradas.

Numa loja ao lado desta vi os quase únicos manequins para roupa feminina que consegui ver neste passeio. As cores das roupas parecem-me excessivamente vivas para o que era habitual ver na rua. Normalmente as túnicas estendiam-se até um ou dois dedos imediatamente acima do joelho, aqui vêem-se túnicas bastante mais curtas. Dado que Shiraz está 900 km ao Sul de Teerão talvez existam critérios mais tolerantes. Mas para mulheres não há mangas curtas.

Todos os manequins têm a cabeça tapada com um lenço, uma vez que os manequins têm cabeça.

Notar ainda a presença no limiar da loja de detectores daquelas etiquetas que se põem nos artigos expostos para evitar que os clientes se esqueçam de pagar os artigos que escolheram na loja. No Irão os ayatolas instauraram a Sharia, a lei islâmica, incluindo o uso bárbaro de cortar a mão aos ladrões. O guia disse-nos que era necessário que se satisfizessem 26 condições para cortar a mão, designadamente que não fosse a primeira vez, que não se tivesse ninguém doente a seu cargo, etc.


Ainda pensei em comentar de forma jocosa que estes detectores eram uma evidência da falência da metodologia do corte da mão aos ladrões, bem como a presença de muitas grades nas janelas mais baixas das casas, pois aparecem às vezes pessoas a dizer que estiveram num país árabe muito seguro porque lá cortavam as mãos aos ladrões. No entanto não consigo fazer humor com este tema e quando li uma vez o Teheran Times lá vinha o artigo idiota a dizer que era preciso cortar mais mãos.

Quando falo na Sharia lembro-me sempre da intervenção inacreditável do arcebispo de Cantuária, sugerindo a aplicação “parcial” dela em tribunais das comunidades islâmicas em Inglaterra. Penso sempre também que talvez quisesse já agora recriar tribunais especiais para a nobreza, para o clero e para o povo.

Do outro lado da mesma loja existiam muito mais modelos masculinos do que a meia-dúzia de exemplares femininos que mostrei acima.

Aqui parece estar a confirmação de que o fruto proibido é o mais apetecido. É difícil de compreender para um ocidental qual o papel das gravatas em camisas com um aspecto claramente desportivo e informal mas não tive a oportunidade de esclarecer esta aparente anomalia. Curiosa ainda a apresentação cuidada dos cintos das calças na horizontal (por trás do primeiro boneco). Por cá muitas vezes são apenas pendurados.

Continuando o périplo mostro agora uma loja de roupa interior, naturalmente masculina, com vários modelos de pijamas e uns calções muito coloridos que talvez sejam “boxers”.

O manequim feminino tem a cabeça tapada por um artigo de roupa, como se fosse por acidente. Presumo que resolveram assim um dilema: as mulheres não dormem de cabeça tapada e seria pouco realista mostrar o manequim com um véu mas seria também inaceitável exibir um manequim feminino numa montra com a cabeça completamente descoberta.

Fecho este post que já vai longo ainda com outra loja em que para aproveitar melhor o espaço usam duas fiadas de bustos e uma fiada de pernas, cada um pelo seu lado. Nessa noite, no centro da cidade, não encontrei mais roupa feminina.


2010-06-11

Seteais

Tenho dificuldade em fotografar arvoredo mas ainda não desisti e desta vez parece-me que tive algum sucesso ao fotografar esta encosta da serra de Sintra




bem como mais esta, com umas sebes cortadas e um conjunto de limoeiros sobre relva, numa visão algo ajardinada de um pomar




ambas tiradas no hotel do palácio de Seteais, recentemente restaurado. Julgo que parte do meu fascínio pela arquitectura moderna deriva do estado de má conservação de muitos dos edifícios mais idosos localizados em Portugal. Se todos estivessem tão bem conservados como este palácio de Seteais, talvez olhasse para algumas coisas antigas com mais benevolência. Esta escada, por exemplo, parece-me muito próxima da perfeição:


2010-06-08

A solidão da Agave face ao Oceano imenso



Engracei com o título deste post que não me saía da cabeça. Foto tirada há poucos dias ao fim da tarde, na estrada marginal, entre o Monte Estoril e Cascais. Este Oceano não será tão imenso como isso porque se vê a costa lá ao longe, mas quase passa despercebida no horizonte...

2010-06-05

Interlúdio (Cabo da Roca)

Há muitos anos a RTP devia ter às vezes umas "brancas" entre programas e então passava uns documentários, parece-me que só com uma música de fundo, para "ocupar" o tempo de emissão.

É um bocado chato chamar interlúdio ao Cabo da Roca, a ponta mais ocidental do continente europeu (38º 47' Norte, 9º 30' Oeste)





"onde a terra acaba e o mar começa", uma pessoa tem este sítio tão notável mesmo aqui ao pé e não pode estar sempre a lembrar-se dele. Mas aqui fica agora para referência futura.

Notar que este é o ponto mais ocidental do continente europeu mas não da Europa, porque esse local situa-se na Irlanda.

Este género de rochas no meio do mar, que mostro a seguir, faz-me sempre pensar em naufrágios de barcos de madeira a partirem-se todos





mas a cor do mar estava bonita.

Na encosta estavam estas plantas douradas sobre o verde, a aguentar o vento forte sempre presente:


2010-06-01

Geometria em Yazd - 3 (e último)

Constato que não resisti a tranformar este blogue numa espécie de álbum de fotos de viagem, para me desculpar tenho a monotonia das discussões intermináveis entre o governo e a oposição.

Mas há um certo risco. Os persas construiram esta mesquita extraordinária mas têm tido dificuldade em encontrar uma governação razoável. Observemos mesmo assim estas estalactites:



e esta parede algo confusa em que a parte central parece uma restituição parcial de uma imagem jpeg, com "pouca discriminação" e com caligrafia cheia de arabescos na parte superior



Nesta imagem vê-se ao fundo os muros que suportam as composições de cerâmica que tenho vindo a mostrar, da mesquita de sexta-feira de Yazd (Jameh Mosque). Em algumas das mesquitas, talvez devido às orações serem feitas ao ar livre, só punham os tapetes nas alturas da oração, pelo que se podia visitar os lugares com sapatos calçados.



A cúpula (31º 54' 04.18"N,54º 22' 05.87"E) da imagem anterior parecia precisar de algum restauro:


Para finalizar mostro a cúpula (31º 54' 04.02"N,54º 22' 11.48"E) de outra mesquita de Yazd, muito próxima da anterior, conforme constatei no Google Earth: