2010-06-15

Moda em Shiraz

Continuando as minhas primeiras impressões de uns poucos dias num país de 70 milhões de habitantes e um milhão e 600 mil km2 de superfície, mostrarei agora umas lojas de roupa que observei num passeio nocturno no centro da cidade de Shiraz, que foi em tempos capital da Pérsia, tendo actualmente 1,2 milhões de habitantes.

Continuo fascinado por estes exércitos de manequins, e continuo a notar muita tolerância por parte da polícia dos costumes em relação às cores garridas das camisas, ao seu corte ousado no que diz respeito ao pequeno comprimento das mangas e à necessidade de expor tantas calças de ganga vestindo ou um modelo completo ou mesmo apenas a parte inferior. Parece haver aqui também alguma falta de imaginação dos compradores para visualizar o aspecto final vendo apenas as calças dobradas.

Numa loja ao lado desta vi os quase únicos manequins para roupa feminina que consegui ver neste passeio. As cores das roupas parecem-me excessivamente vivas para o que era habitual ver na rua. Normalmente as túnicas estendiam-se até um ou dois dedos imediatamente acima do joelho, aqui vêem-se túnicas bastante mais curtas. Dado que Shiraz está 900 km ao Sul de Teerão talvez existam critérios mais tolerantes. Mas para mulheres não há mangas curtas.

Todos os manequins têm a cabeça tapada com um lenço, uma vez que os manequins têm cabeça.

Notar ainda a presença no limiar da loja de detectores daquelas etiquetas que se põem nos artigos expostos para evitar que os clientes se esqueçam de pagar os artigos que escolheram na loja. No Irão os ayatolas instauraram a Sharia, a lei islâmica, incluindo o uso bárbaro de cortar a mão aos ladrões. O guia disse-nos que era necessário que se satisfizessem 26 condições para cortar a mão, designadamente que não fosse a primeira vez, que não se tivesse ninguém doente a seu cargo, etc.


Ainda pensei em comentar de forma jocosa que estes detectores eram uma evidência da falência da metodologia do corte da mão aos ladrões, bem como a presença de muitas grades nas janelas mais baixas das casas, pois aparecem às vezes pessoas a dizer que estiveram num país árabe muito seguro porque lá cortavam as mãos aos ladrões. No entanto não consigo fazer humor com este tema e quando li uma vez o Teheran Times lá vinha o artigo idiota a dizer que era preciso cortar mais mãos.

Quando falo na Sharia lembro-me sempre da intervenção inacreditável do arcebispo de Cantuária, sugerindo a aplicação “parcial” dela em tribunais das comunidades islâmicas em Inglaterra. Penso sempre também que talvez quisesse já agora recriar tribunais especiais para a nobreza, para o clero e para o povo.

Do outro lado da mesma loja existiam muito mais modelos masculinos do que a meia-dúzia de exemplares femininos que mostrei acima.

Aqui parece estar a confirmação de que o fruto proibido é o mais apetecido. É difícil de compreender para um ocidental qual o papel das gravatas em camisas com um aspecto claramente desportivo e informal mas não tive a oportunidade de esclarecer esta aparente anomalia. Curiosa ainda a apresentação cuidada dos cintos das calças na horizontal (por trás do primeiro boneco). Por cá muitas vezes são apenas pendurados.

Continuando o périplo mostro agora uma loja de roupa interior, naturalmente masculina, com vários modelos de pijamas e uns calções muito coloridos que talvez sejam “boxers”.

O manequim feminino tem a cabeça tapada por um artigo de roupa, como se fosse por acidente. Presumo que resolveram assim um dilema: as mulheres não dormem de cabeça tapada e seria pouco realista mostrar o manequim com um véu mas seria também inaceitável exibir um manequim feminino numa montra com a cabeça completamente descoberta.

Fecho este post que já vai longo ainda com outra loja em que para aproveitar melhor o espaço usam duas fiadas de bustos e uma fiada de pernas, cada um pelo seu lado. Nessa noite, no centro da cidade, não encontrei mais roupa feminina.


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