2011-06-27

O Jovem Rei, conto de Oscar Wilde

A luz rasante que iluminava o mosaico do Alhambra do último post fez-me lembrar os raios de luz colorida pela travessia dos vitrais das igrejas, de que é exemplo um pouco fora do comum este tom avermelhado sobre uma coluna da deslumbrante igreja da Sagrada Família em Barcelona



criado pelo vitral que mostro a seguir.

Digo que este exemplo é pouco comum porque, dado o avanço lento das obras na Sagrada Família, esta zona do edifício ainda não é um espaço fechado, donde a abundância de luz e a consequente ausência de materialização dos raios luminosos, que é mais evidente em locais mais escuros.

De qualquer forma, sempre que vejo raios de luz dentro de igrejas lembro-me da cena final do conto “O Jovem Rei” do Oscar Wilde, de que tanto gostei na minha infância.

É a história dum jovem príncipe educado longe da corte, que se fascina com a descoberta dos luxos que aí abundam, mas que tem um sonho na véspera da coroação onde descobre que o ouro as pérolas e os rubis que decoram a roupa preparada para a cerimónia implicam a miséria de muita gente. Ao decidir que não será cúmplice dessa miséria e que levará as suas roupas simples de pastor, no problema clássico do ser e do ter, é criticado pelos cortesãos nestes termos:

«
E o Camareiro dirigiu-se ao jovem Rei e disse, «Meu senhor suplico-te, põe de lado esses teus pensamentos negros e veste esta bela túnica e coloca esta coroa sobre a tua cabeça. Pois, como poderá o povo saber que tu és um rei, se não tens um traje de rei?
...
Os nobres fizeram troça e alguns deles gritaram para o Rei, «Meu senhor, o povo aguarda pelo seu rei e tu mostras-lhes um mendigo», e outros indignados diziam, «Ele traz vergonha sobre o nosso estado, e não é digno de ser o nosso senhor».
»

O povo também mostrou pouco entusiasmo com esta alteração dos costumes:

«...
O povo ria e dizia, «É o louco do Rei quem cavalga», e gozavam com ele. O jovem Rei puxou pelas rédeas e retorquiu, «Não, pois eu sou o Rei». E contou-lhes os seus três sonhos.

E um homem saiu da multidão e falou amargamente para ele, dizendo, «senhor, não saberás tu que da luxúria do rico surge a vida do pobre? Somos educados pela tua pompa e os teus vícios dão-nos o pão. Trabalhar para o duro mestre é amargo, mas não ter mestre para quem trabalhar é ainda mais amargo.
Pensas tu que os corvos irão alimentar-nos? E que remédio tens tu para estas coisas? Irás dizer ao comprador, “Deverás comprar esta quantidade” e ao vendedor, ‘tu deverás vender a este preço?’ Não creio. Por isso, volta para o teu palácio e coloca em ti o bom linho vermelho. O que tens tu a ver connosco e com o que sofremos?»
«Não são o rico e o pobre irmãos?» Perguntou o jovem Rei.
«Sim», respondeu o homem, «e o nome do irmão rico é Caim».
Os olhos do jovem Rei encheram-se de lágrimas, e ele cavalgou através dos murmúrios do povo, enquanto o pequeno pagem amedrontado, o deixou.
»

O próprio bispo que o ia coroar disse-lhe entre outras coisas:

«...
mas digo-te que cavalgues de volta para o Palácio e alegra a sua cara, coloca as vestes próprias de um rei e com a coroa de ouro, te coroarei e o ceptro de pérola colocarei na tua mão. E quanto aos teus sonhos, não penses mais neles. O fardo deste mundo é demasiado grande para que um homem o carregue e a tristeza do mundo demasiado pesada para um coração sofrer.
»

A saída que o Oscar Wilde arranjou foi pôr os raios de sol a entrar pelos vitrais adentro, dando cores belas à roupa modesta e fazendo florir lírios e rosas vermelhas no bastão que o Rei levava, daí me lembrar desta história quando vejo raios luminosos a atravessar vitrais.

Resumindo, parece que a única alternativa àqueles programas conservadores, quer de governação quer de economia, acaba por ser um milagre, o que sabemos ser pouco frequente.

O conto acaba por ser deprimente.

Fui buscar os textos em português aqui, tendo feito apenas uma pequena alteração, usei “Os nobres fizeram troça” em vez de “Os nobres alegraram-se”.

Para finalizar deixo uma imagem da mesma zona da igreja mas destacando mais o tecto.



Acho simpático que o primeiro-ministro tenha prescindido da classe executiva nos voos para a Europa. A diferença de classes nestas viagens curtas não tem vantagem prática significativa, trata-se apenas de “status”. Claro que a boa governação é que é importante.

Continuo sem perceber porque é que as sandes da TAP são tão más. Qualquer supermercado tem sandes baratas melhores do que as que servem nos voos nessas viagens curtas.

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