2012-06-22

Mosteiro da Batalha


A floresta de choupos-bébés do último post fornece, através desta floresta de colunas, o pretexto para regressarmos aos templos góticos:



Desta vez não se trata duma catedral mas do Mosteiro da Batalha de que gosto muito e que costumava visitar mais vezes quando a estrada Lisboa - Porto lhe passava ao pé.

Dei ligeiros retoques na foto original para obter a simetria que me parece quase perfeita da imagem.

Deixando as considerações mais detalhadas sobre o mosteiro para a entrada da Wikipédia acima citada vou-me limitar a umas impressões de cariz pessoal.

A primeira é que se trata de um templo bastante austero, com uma quantidade modesta de vitrais mas com luz suficiente, proporções harmoniosas e com uma nave central desimpedida que permite ver o altar-mor logo a partir da entrada principal, situada num extremo dessa nave.

Esta sugestão de um caminho em direcção à Luz fez-me lembrar a “Igreja da Luz”, de decoração também minimalista, desenhada pelo arquitecto japonês Tadao Ando, construída na pequena cidade de Ibaraki, nos arredores de Osaka, no Japão. E cuja imagem fui buscar aqui.




Mas continuando as impressões de cariz pessoal, surpreende-me sempre a falta de edifícios góticos em Portugal, sendo possivelmente este mosteiro o mais significativo. Sendo Portugal um país tradicionalmente católico há tanto tempo seria de esperar mais manifestações arquitectónicas dessa situação, tanto mais que não nos faltam igrejas. Às vezes penso que terá sido o terramoto de 1755 que arrasou o gótico construído em Lisboa. Por exemplo, o convento do Carmo em Lisboa é uma ruína de estilo gótico. Julgo que para quem acredita na intervenção divina na vida quotidiana será difícil reconstruir um templo destruído por um terramoto: se Deus não protegeu um edifício erigido para O louvar não se deve ir contra a Sua vontade destruidora. Esta conjectura justifica a maior dificuldade em reconstruir um templo danificado por causas “naturais” do que aqueles que foram destruídos, por exemplo, por seres humanos durante uma guerra. Mas no norte de Portugal o terramoto de 1755 não causou grandes estragos e tão pouco existem por lá grandes catedrais góticas. Continuo mostrando uma foto da fachada principal




À direita da nave central vê-se a “Capela do Fundador”, em que “fundador” aqui se refere ao fundador da dinastia de Avis, D.João I. É um volume pouco comum, que estraga a simetria do edifício.

O que agora se chama a “sociedade civil” não parece ter sido forte antigamente, no que respeita à construção de catedrais, este mosteiro foi construído por ordem do rei, as igrejas góticas construídas nas paróquias costumam ter sempre dimensões bastante modestas em Portugal.

Gosto da capela do fundador por fora e por dentro, apenas me desgosta a perturbação na simetria da fachada pelo que a mostro agora num enquadramento sem a referida capela:




em que se constata a delicadeza dos arcos botantes e dos vários rendilhados da pedra que dão uma grande leveza à construção.

Acho belíssima esta parte superior da fachada:




e estão muito bem as formas geométricas da janela com vitrais, embora a superfície de vidro seja bastante reduzida





Ao ver estas construções geométricas lembro-me sempre da alegria que tive quando me ensinaram no liceu a fazer um arco contracurvado, um desenho que se fazia usando régua e compasso, primeiro a lápis, depois passando a tinta-da-china, com extremo cuidado para não borrar, pois o tira-linhas quer para as rectas quer o que se adaptava no compasso requeriam muita atenção.

Não resisto a apresentar o meu trabalho do antigo 4º ano do liceu, actual 8º, cuja digitalização teve uns ligeiros retoques, mostrando as linhas auxiliares da construção com régua e compasso de um dos arcos contracurvados possíveis:


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