2013-12-31

Ando Hiroshige (1797 - 1858)


Desde o início deste blogue que tenho encerrado cada ano com um desenho do artista japonês Hokusai, que viveu de 1760 a 1849.

Longe de ter esgotado a vasta obra dele, apeteceu-me desta vez mudar de artista, para o também muito famoso Hiroshige que nasceu quando Hokusai já tinha 37 anos e que se supõe que tenha sido bastante influenciado pelas obras deste artista.

Ambos fizeram parte da escola Ukiyo-e, que usava blocos de madeira para a impressão de gravuras, aumentando assim a possibilidade de mais gente ter acesso a uma mesma obra de arte.

A que está aqui ao lado tem o título "Chuva sobre Atake e a Grande Ponte", fui buscá-la à Wikimedia Commons, onde continuam a ter das melhores reproduções digitais da internet. A versão que mostro aqui é dum ficheiro .jpeg com uma compressão um pouco maior do que a da Wikimedia.

As pontes mais comuns são sítios maus para se ser apanhado por um aguaceiro, não há nenhuma construção onde uma pessoa se possa abrigar.

Nestas gravuras japonesas vê-se muita gente com as pernas sem roupa, os texteis não foram sempre baratos, como é agora o caso.

As gravuras japonesas influenciaram muito os pintores europeus do fim do século XIX, Van Gogh pintou mesmo um quadro que é uma cópia desta gravura de Hiroshige, a casa de Monet em Giverny tem muitas estampas japonesas decorando as suas paredes.

Além de ser uma imagem muito famosa adequa-se ao mau tempo que tem prevalecido neste final de Dezembro, muito típico do Inverno.

Como além da chuva temos tido vento e as árvores ficaram finalmente com muito poucas folhas achei que a gravura que se segue, também de Hiroshige, se adequava à data, se bem que a Lua actualmente não esteja cheia mas em quarto minguante.

Vi pela primeira vez esta gravura no site do Jardim Botânico de Chicago onde informam que estão a podar algumas árvores da secção japonesa desse jardim para ficarem parecidas a estas!

Nunca me tinha passado quela cabeça que os jardineiros usassem quadros como fonte de inspiração mas acaba por ser natural que a interacção se faça nos dois sentidos, dos jardins para os quadros e dos quadros para os jardins!

A imagem chama-se "Lua cheia em Seba na estrada de Kisokaido", fazendo parte da série "69 estações do Kisokaido" e fui buscá-la também à Wikimedia Commons. Desta vez reenquadrei e preenchi os cantos com a côr horizontalmente adjacente para evitar o enquadramento cinzento claro de cantos arredondados.





Feliz Ano Novo de 2014!

2013-12-28

Cadeira Cimitarra de Preben Fabricius e Jorgen Kastholm


Na Fundação Calouste Gulbenkian existem umas cadeiras, também de cores outonais, que há muito tempo consegui identificar, através de buscas na net, como a cadeira Cimitarra, projectada pelos "designers" dinamarqueses Preben Fabricius e Jorgen Kastholm (claro que quem for à procura na net obterá melhores resultados com a versão inglesa: Scimitar chair by Preben Fabricius and Jørgen Kastholm).

Na altura descobri a imagem que mostro à direita mas não ocnsegui agora localizar o site onde ela estava. Felizmente tinha chamado ao ficheiro "Preben Fabricius and Jorgen Kastholm-Scimitar Chair.jpg" pelo que foi possível localizar referências na Artnet, na Wikipédia e na bo-ex, a firma dinamarquesa que continua a produção desta cadeira, desenhada em 1963.

Tenho muitas vezes a curiosidade de ver quanto custam estes artigos e constatei na lista de preços da bo-ex que custava 5333€ ex.VAT, que interpreto como excluindo o IVA. Com IVA seria 6560€. Entretanto a lista desapareceu, diz que "Coming soon". A mesa, sem IVA, fica pelos 4000€, com IVA 4920€.

A foto a seguir foi tirada com o meu telemóvel e depois reeenquadrada. Acho curiosa a permanência da alcatifa em muitas zonas da Fundação, provavelmente para abafar o ruído ambiente, nas casas das famílias a alcatifa deixou de ser comum em Portugal, voltou-se ao soalho de madeira.


Quando foi possível fazer mobiliário com métodos industriais de produção em série e ultimamente deixando o trabalho de montagem para o comprador, alguns designers tentaram fazer produtos funcionais, sem descurar a beleza, e a preços acessíveis para a maioria da população. Nem todos enveredaram por esse caminho, continuaram a ser projectados e fabricados produtos de nicho, dificilmente acessíveis a toda a gente. Esta cadeira cai claramente na segunda categoria, para se ter uma boa cadeira, cómoda e durável, não é preciso tanto dinheiro.


Presumo que existam detalhes construtivos que a tornem cara, ou poderá ser vendida artificialmente cara para se dirigir ao mercado das pessoas que se sentem felizes por possuirem coisas que não estão ao alcance de toda a gente.


Caro ou barato  acho o conjunto muito bonito, a ideia ocorreu aos designers quando estavam a trabalhar no Líbano, como foi em 1963, antes da guerra civil, ainda o Líbano era a Suíça (ou o Monte Carlo) do Próximo Oriente.

2013-12-23

Boas Festas


Em 2008 e em 2010 já mostrei este filminho de 38 segundos em que não se passa nada à excepção da rotação de uma Estrela de Natal que vai reflectindo a luz incidente em todas as direcções.






Faço aqui votos de Boas Festas e dum Ano Novo Razoável, no sentido de ter um pouco mais de racionalidade do que o que está a terminar, talvez seja desta...

2013-12-20

O Tribunal Constitucional salvou Portugal da bancarrota


O Tribunal Constitucional salvou Portugal da bancarrota pois seria isso que teria acontecido se não tivesse sido declarada como inconstitucional e logo inviável de ser adoptada a lei aprovada pela maioria PSD + CDS em que o Estado pretendia dar o dito por não dito, revogando os valores das reformas já atribuídas através de legislação aprovada na Assembleia da República.

Não consigo ver qual a diferença entre cumprir uma promessa legalmente feita pelo Estado a um pensionista sobre pagamentos futuros e o pagamento atempado de juros e amortizações prometidos legalmente pelo Estado para serem pagos no futuro.

E irrita-me particularmente o argumento usado esta noite pelo José Gomes Ferreira na SIC Notícias, em entrevista no jornal das 22 horas de dizer que a alternativa de aumentar os impostos é pior porque vai reduzir o consumo. Portanto, para o José Gomes Ferreira, o dinheiro entregue aos reformados sob a forma de pensões, não vai ser empregue no consumo. Será gasto aonde? Em colocações financeiras nos paraísos fiscais?

2013-12-18

Cores de Outono - 4, Jardim da Fundação Gulbenkian


Tirei esta foto no dia 1/Dez/2013 às 15:30





no Jardim da Fundação Calouste Gulbenkian, um dos jardins mais belos que tenho visto por esse mundo, magnificamente projectado pelos Engenheiros Agrónomos e Arquitectos Paisagistas Gonçalo Ribeiro Telles e António Facco Viana Barreto e competentemente mantido por uma eficiente equipa de jardineiros.


No Outono, além dos amarelos, laranjas, castanhos e vermelhos das folhas das árvores temos ainda as plumas, muitas vezes brancas, que costumam aparecer por Outubro, resistindo melhor ou pior até ao princípio do Inverno.


Quando iluminadas pelo Sol as plumas constituem-se em fonte de luz, ainda mais notória quando se destacam de um fundo escuro.


Além da beleza do conjunto que mostro na primeira imagem deste post, pensei que seria interessante fazer um enquadramento com maior dimensão vertical, onde isolasse o tufo de plumas e um choupo de folhas amarelas, o que fiz na imagem que exibo aqui à direita deste texto.


Por outro lado pensei que também seria interessante fazer um enquadramento desenvolvendo-se na horizontal, cujo principal protagonista seria o conjunto de plumas que existem na margem do lago maior do jardim e que na imagem surgem à mesma altura do tufo aqui à direita.


Deixo em baixo este segundo enquadramento, da primeira imagem deste post, deixando ao leitor o encargo de eventualmente preferir um deles.


Eu inclino-me sem grande convicção para o enquadramento horizontal, pois também gosto muito dos outros dois.



2013-12-15

Cores de Outono - 3, Ginkgo Biloba


Nos primeiros textos deste blogue em que me referi a esta simpática árvore usava a grafia "Gingko".
Entretanto descobri que a grafia "Ginkgo" é mais comum. Tentei pronunciar das duas formas a ver qual preferia e fui surpreendido pela semelhança fonética, dado que o "g" fica bastante mudo quando ao pé do "k". Vou passar a usar a segunda forma mas não vou alterar a grafia usada nos posts anteriores. Coloquei o rótulo (label, tag) "GINKGO" nas que usavam a grafia anterior mas tal não é suficiente para que apareçam quando se faz uma busca com a palavra "ginkgo".

Estas árvores apresentam a vantagem de as folhas ficarem amarelas relativamente cedo mas demorarem muito tempo a cair, oferecendo o espectáculo de uma árvore com folhagem abundante, toda de cor amarela, como se constata nesta imagem



tirada na rua Fernando Pessoa, no bairro de Alvalade em Lisboa. Quando comecei a reparar nos ginkgos só conhecia a existência deles em Lisboa no largo do Príncipe Real. Entretanto já dei por eles na Av.João Crisóstomo, na Av.João XXI, na Av.D.João II no Parque das Nações e agora nesta rua.

Na Wikipédia referem a existência de árvores macho e fêmea desta espécie e dizem que costumam evitar a plantação de árvores fêmea em ruas porque os frutos têm ácido butírico, que tem um cheiro desagradável. Neste sítio referem mesmo a conveniência de usar luvas para colher os frutos, foi assim com alguma surpresa que vi na mesma rua este ginkgo com frutos



Para finalizar mostro apenas uma árvore ginkgo biloba, ainda na mesma rua Fernando Pessoa




2013-12-10

Cores de Outono - 2, Tribunal Constitucional


Tenho que me despachar com as cores do Outono porque a estação está quase a acabar, o solstício de Inverno é já a vinte e poucos de Dezembro.

Já agora, e antes de entrar no tema do post, queria manifestar o meu cansaço pela forma miserável como boa parte da má comunicação social portuguesa faz o frete ao seu querido governo referindo o "perigo que representa o Tribunal Constitucional" que pode chumbar eventualmente algumas medidas do governo, que lhe sejam submetidas, por as considerar inconstitucionais.

Presumo que o governo diga coisas semelhantes sobre o Tribunal Constitucional e digo presumo porque costumo mudar de canal quando me aparece um governante pois considero que não devo gastar o meu tempo a ouvir mentirosos que dizem que vão fazer uma coisa e depois, ou não fazem nada ou tomam uma medida contrária ou muito diferente do que disseram.

Mas regressando às cores de Outono, existem naturalmente excepções à regra que referi no post anterior, algumas árvores ficam com a grande maioria ou totalidade das folhas de uma côr diferente da verde. É o caso da que aparece na imagem seguinte, com umas folhas que de longe parecem dum pinheiro, que avistei no "Caminho das Gaivotas" no Parque das Nações ao pé da Ponte Vasco da Gama. A árvore está nas coordenadas  38°47'1.58"N,   9° 5'32.69"W, obtidas através do Google Earth:


Como muitas vezes a foto foi tirada com o telemóvel, estava uma luz rasante de fim de tarde e a textura da árvore ao longe fazia lembrar veludo, dum vermelho mais escuro do que o que ficou na imagem.



A seguir mostro uma ampliação da mesma foto onde me ocorre a palavra inglesa "fluffy" talvez "fôfa" ou "felpuda" sejam adequadas, mas não me soam muito bem.



Passados dois dias fui revisitar a mesma árvore, desta vez com uma máquina fotográfica, mas cheguei ligeiramente mais tarde e o sol já só iluminava a parte superior da copa da árvore que entretanto estava mais desfolhada. A foto ficou assim:



mostrando a seguir também uma ampliação.



Se alguém souber o nome desta árvore agradeço a informação.

2013-12-08

Cores de Outono


A mudança de cor das folhas das árvores em Lisboa tem características específicas relacionadas com o clima da cidade.

A primeira diferença em relação a sítios de maior latitude é que essa mudança ocorre mais tarde, lá para o norte as folhas já mudaram de côr e já caíram todas enquanto por cá ainda se vêem folhas nas árvores, muitas delas ainda verdes.

A segunda diferença tem a ver com a rapidez com que o frio se instala. Como em Lisboa o frio aparece devagarinho, algumas das folhas das árvores vão mudando de côr e caindo mas na maior parte das árvores continuam a existir bastantes folhas verdes embora a árvore esteja a ficar com menos folhas. Quando a totalidade das folhas muda de côr já a árvore perdeu muitas e não temos assim muitas árvores cheias de folhas amarelas, laranjas, castanhas ou vermelhas como é habitual noutras paragens.

Este ano houve uma descida mais brusca da temperatura na última quinzena que coincidiu com tempo seco, possibilitando as imagens de folhas douradas sobre o azul do céu.

Neste caso trata-se de um plátano nos Olivais que confirma a minha teoria das folhas já um pouco rarefeitas, tirada em 201312-01 11:20



A foto foi tirada com o telemóvel e gosto muito dos tons de azul do céu.

Pensei que valeria a pena fotografar a mesma árvore com uma máquina fotográfica, o que fiz em 2013-12-06 13:44



As folhas parecem um pouco mais nítidas mas parece que existem muito menos, num espaço de 5 dias caíram muitas folhas. O azul do céu parece mais real do que o da imagem anterior embora o outro fosse mais bonito. A diferença da hora do dia poderá explicar também parte da diferença.

Entretanto morreu Nelson Mandela, homem bom que admiro por ter evitado o banho de sangue que parecia inevitável na África do Sul. Muitas vezes existem alternativas ao que parece inevitável.

2013-12-03

A Rota do Azulejo



Passei por mais esta exposição interessante na Fundação Calouste Gulbenkian com cerâmicas de países mediterrânicos e de um ou outro mais longínquos, com “Newsletter” da Fundação referida neste site espanhol intitulado “Retabloceramico”.

Normalmente a Gulbenkian deixa fotografar as obras expostas nos seus museus, interditando apenas o flash e o uso de tripés, talvez desta vez estivessem mais limitados por terem de respeitar normas das instituições que cederam objectos para a exposição.

Avisaram-me que não podia fotografar pelo que fiquei com uma única foto desta exposição. Ao procurar imagens na net descobri aqui este azulejo turco com um faisão pousado em ramo de prunus do século XVI, © Cité de la Céramique, Sèvres


A exposição tem alguma cerâmica de Iznik, de que o Museu Gulbenkian possui lindíssimos exemplares.

O único objecto que fotografei foi esta peça de cerâmica do Irão



um caso de “azul sobre ouro”, em vez do tradicional “ouro sobre azul”. Suspeito que o tom dourado da parede se deve a um “controlo de brancos” deficiente, mas gosto do resultado final.

Como na altura não tomei nota da legenda da peça, achei que dava mau aspecto tirar uma foto à legenda depois de me terem dito que não se podia fotografar, fui depois à net ver se encontrava referências.

Encontrei logo esta imagem, em que a peça de cerâmica é acompanhada por uma obra de M.C.Escher:



Os admiradores de Escher costumam saber que ele fez visita demorada ao Alhambra, em Granada na Espanha, e esta figura fazia parte de uma exposição/livro que teve lugar na Holanda intitulada “Escher-meets-islamic-art”.

O virtuosismo com que Escher preenche o plano de figuras muitas vezes geométricas apoia-se em boa parte nas descobertas islâmicas, com a vantagem de poder explorar o uso de figuras humanas e animais, uso esse interdito ou muito desencorajado pelo Islão.

Além do interesse que costumo ter por motivos geométricos, que me levaria a reparar  nesta peça cerâmica, julgo que a minha atenção foi  ainda mais chamada pelo facto da figura se basear no traçado de 3 quadrados, rodados de 30º, quando a figura islâmica mais popular são os dois quadrados rodados de 45º.

Para me entreter fiz as figuras que acabo de referir numa folha excel:


Há uma referência sucinta à figura de 8 pontas como “Rub el Hizb” na Wikipédia.

Nas viagens é frequente o guia referir significados para esta associação de 2 quadrados. Costumo ouvir com curiosidade esses significados e esquecê-los depois rapidamente, presumo que por não me terem convencido na altura. Devido a esse esquecimento frequente procurei agora na net esse significado e encontrei neste sítio “Morrocan Design” onde em vez de um referem uma imensidade de significados, nenhum deles mais convincente do que os outros. Mas se os significados não são por aí além, as figuras mostradas são muito interessantes.

Na net esta peça era referida como fazendo parte da colecção do “Gemeentemuseum Den Haag”, o Museu Municipal de Haia, na Holanda. Posteriormente consultei o catálogo da exposição que confirmava este museu, dizendo que a peça era proveniente de Kashan, na Pérsia e datada à volta de 1400 DC:



2013-12-02

Feriado do Primeiro de Dezembro


A supressão de 4 feriados por este governo já me mereceu comentários neste post de Maio de 2012, que considero actuais.

O ar de Lisboa tem estado duma transparência extrema, que contrasta com a opacidade do governo PSD-CDS. E a situação política e económica não tem os tons rosados deste crepúsculo, observado no dia Primeiro de Dezembro de 2013 em Carcavelos.