2016-02-25

Al Gore: existem motivos para optimismo sobre as mudanças climáticas


Al Gore fez neste mês de Fevereiro de 2016 uma apresentação com duração de 25 minutos onde depois de referir os grandes problemas trazidos pelas mudanças climáticas tem palavras de grande optimismo sobre a evolução das energias renováveis, designadamente dos aerogeradores, dos painéis fotovoltaicos e das baterias de lítio.

Às 23:05 diz: "We are regularly surprised by these developments..." citando a seguir Rüdiger Dornbusch: "Things take longer to happen than you think they will, and then happen much faster than you thought they could."

Foi uma citação que me pareceu particularmente apropriada ao que tinha acabado de apresentar



2016-02-23

Pai Nosso



Acabei há pouco tempo de ler o livro “Pai Nosso”, alegado romance de Clara Ferreira Alves.

Gostei do que li mas fiquei com a sensação que não se tratava de um romance propriamente dito, daí o adjectivo “alegado” que usei no parágrafo anterior.

Há muitos anos que quase não leio romances e embora reconheça alguma utilidade e prazer na leitura deste género falta-me o interesse pela psicologia dos personagens. Neste livro a densidade psicológica dos personagens é tão ténue que é quase transparente.

Quanto a mim trata-se de um conjunto de crónicas de repórter versado na guerra sem fim entre israelitas e palestinianos e no fundamentalismo islâmico local e global. A situação política e social descrita é muito deprimente e percebe-se que a Clara Ferreira Alves ande bastante mal disposta com o estado do Mundo.


Adenda
Achei muita graça a uma fala da personagem Beatriz sobre Jerusalém:
- E ninguém gosta de Jerusalém. Nem o Papa. Por alguma razão o Vaticano é em Itália, na civilização. Sempre se pode ver o Michelangelo em paz. Comer uma pasta ou un risotto.

2016-02-16

Igreja de Roma e Igreja de Moscovo


Há dias encontraram-se em Cuba o Papa Francisco, chefe da Igreja Católica Apostólica Romana e Cirilo, o Patriarca de Moscovo e da Igreja Ortodoxa de toda a Rússia.

Ao longo da história do Cristianismo têm ocorrido vários cismas, conforme referi aqui, costumam existir divergências teológicas muitas vezes acompanhadas de divergâencias sobre o governo da comunidade dos crentes.

Os dois maiores cismas ocorreram nos séculos XI e XVI, o primeiro na separação entre a igreja do Oriente e a Romana, o segundo na separação de várias correntes protestantes na Europa da igreja chefiada pelo Papa.

Dadas as vicissitudes da História as igrejas orientais estavam mais ligadas ao poder imperial romano do Oriente, localizado em Constantinopla. O imperador era considerado no Oriente o sumo pontífice (lembrando o papel do rei de Inglaterra como “chefe” da igreja anglicana) e o imperador Justiniano considerou que existiam 5 patriarcas: Roma, Constantinopla, Alexandria, Antioquia e Jerusalém.

O bispo de Roma considerava-se como herdeiro legítimo de S.Pedro, chefe da igreja cristã alegadamente nomeado pelo próprio Jesus Cristo. Dado ainda que o império Romano do Ocidente deixara de existir no século V e o poder de Constantinopla sobre Roma era intermitente e ténue, o bispo de Roma sempre teve reservas em relação à consideração destes 5 patriarcados como entidades paritárias.

As relações foram-se degradando ao longo dos séculos e em 1054 o delegado do Papa e o Patriarca de Constantinopla excomungaram-se mutuamente.

Desde essa altura ocorreu um massacre de latinos em Constantinopla (1182) a que se seguiu o saque de Tessalónica (1185) e o massacre de bizantinos por cruzados da 4ª Cruzada no saque de Constantinopla em 1204. O império latino do Oriente então estabelecido durou 55 anos, tendo sido extinto por bizantinos que se aguentaram em declínio até à queda de de Constantinopla para os otomanos em 1453, após algumas tentativas falhadas de serem ajudados por Roma na luta contra os turcos. Estas peripécias não ajudaram a um entendimento.

A Wikipédia tem listas dos patriarcas ortodoxos dos vários sítios. A lista de Moscovo refere o primeiro “metropolita” de 1283-1305 e o primeiro patriarca de 1589-1605. À medida que o Islão tomou conta de Antioquia, de Alexandria e finalmente de Constantinopla, a influência destes patriarcas foi declinando enquanto aumentava a do patriarca de Moscovo, cidade a que certa altura se reclamava do “título” de terceira Roma, sucessora da Constantinopla que deixara de ser terra de maioria cristã. O soberano de Moscovo chamava-se Tzar ou Czar por ser o novo César.

Quando os soberanos se reclamam de o serem por direito divino, é inevitável que os sumo-sacerdotes se vejam envolvidos na luta política, dado que convém ter uma autoridade eclesiástica que “certifique” o soberano como sendo o escolhido por Deus.

O imperador de Constantinopla era coroado na igreja de Santa Sofia, sendo ainda visíveis os mosaicos em círculo no chão onde se colocava o imperador a coroar e as várias figuras do protocolo de Estado e da Igreja.

O papa de Roma não tinha um imperador próximo mas coroou Carlos Magno e depois vários imperadores do Sacro-Império Romano-Germânico. O título de “imperador”  destes soberanos era em alemão “Kaiser”, também derivado de César. Vi isto procurando por “Leonor de Portugal” uma princesa portuguesa que se casou com o imperador alemão Frederico III. Escolhendo a versão em alemão (língua que desconheço) desta entrada da wikipédia e procurando a palavra “kaiser” apareceu-me logo uma instância junto ao nome de Fredrich III. O encontro dos noivos foi pintado por Pintoricchio num fresco da biblioteca Piccolomini na catedral de Siena que referi aqui.

Noutra ocasião tentarei revisitar a entrada da Wikipédia sobre Leonor de Portugal que me pareceu à primeira vista muito interessante.

É provável que nestes quase mil anos tenham existido de vez em quando tentativas discretas de reaproximação das  igrejas de Roma e Ortodoxa. No século XX, no ano de 1964, o papa Paulo VI encontrou-se com o Patriarca Atenágoras I de Constantinopla em Jerusalém. Nessa altura ambos anularam as excomunhões feitas em 1054 mas as igrejas permaneceram separadas. Não sei porque não houve encontros com o patriarca de Moscovo, dada a existência da URSS é provável que não existissem condições políticas.

E finalmente chegamos ao encontro em Cuba no aeroporto José Martí em Havana, no dia 12 de Fevereiro de 2016, referido aqui onde assinaram uma declaração conjunta exortando “a comunidade internacional à união para porem termo “à violência e ao terrorismo”. Apelam para a paz, para a “ajuda humanitária” aos refugiados e referem o martírio dos cristãos.”.

É algo irónico que líderes da Igreja Católica e da Igreja Ortodoxa tenham escolhido um país governado por um regime comunista para se encontrarem, na imagem seguinte vê-se o anfitrião Raul Castro a assistir à assinatura da declaração


nestoutra os dois líderes


e nesta final não resisti a mostrar melhor o “chapéu” do patriarca


que tem no topo uma cruz e na fronte uma representação de um Serafim que, por coincidência, eu mostrara dois posts atrás!

As imagens são desta notícia da BBC.


2016-02-12

Esteira de luar perfeita




Imagem tirada da capa do livro "passos perdidos" de Paulo Varela Gomes, edições Tinta da China, ilustração de Vera Tavares

2016-02-07

Os Serafins da igreja de Santa Sofia



Parece-me cada vez mais que as pessoas precisam de certezas e de crenças firmes. Em tempos essa necessidade na Europa foi satisfeita pela religião. Agora que a prática religiosa abrandou tem vindo a ser substituída pela economia como fornecedora de crenças inabaláveis e eternas.

A Economia que nasceu para basear algumas decisões na avaliação ponderada de custos e proveitos, tem os seus licenciados produzindo frases como “não existe alternativa”, “temos que manter o rumo” ou mesmo um surpreendente “custe o que custar”.

Gosto da proposta de orçamento aprovada pelo governo de Portugal para o ano de 2016, apreciei a negociação do governo com a Comissão Europeia e dispensava as críticas desproporcionadas de que foi objecto e que são muito bem ilustradas aqui. Cansei-me de ouvir muitas discussões inúteis e algo bizantinas, como por exemplo sobre a inerentemente difícil aplicação do conceito de défice estrutural, pelo que me ocorreu a ideia de falar sobre temas bizantinos propriamente ditos.

Quando visitei a igreja de Santa Sofia, ou melhor da Santa Sabedoria, em Istambul, em Julho de 2003, a igreja estava a ser restaurada, estando instalado um andaime imenso ocupando um quarto do espaço por baixo da cúpula principal.

A igreja é deslumbrante e referi-a em dois post de 2008, aqui e aqui.

Na altura tirei esta foto da cúpula



onde se vêem 3 das 4 áreas de forma aproximadamente triangular que constituem os suportes principais da cúpula e que muitas vezes são chamados de “pendentes”. Esta designação padece do triunfo da forma sobre o conteúdo. Muita gente fica deslumbrada por a cúpula parecer que está ali a flutuar sem suporte e o que está a ela ligado aparece a essas pessoas como pendendo da cúpula, “justificando” assim o uso do termo “pendentes”.

Nesses triângulos vêem-se umas figuras compostas pelo que parecem ser asas. Intrigado, tentei ver do que se tratava e li em vários sítios que seriam representações de anjos mas continuei sem perceber o que via.

Na figura seguinte vê-se um dos alegados anjos um pouco melhor e a foto que coloquei no Picasa, para ser consultada por eventuais interessados, tem maior resolução do que a que apresento no post.



Recentemente, na sequência duma referência num comentário a este meu post do Vítor Santos Lindegaard a um texto “Plume d’Ange” dito por Claude Nougaro, fui à procura no google de uma figura de anjo e encontrei finalmente a explicação das figuras aladas da igreja de Santa Sofia!

Trata-se de Serafins, que a Wikipédia esclarece serem os anjos que no céu estão mais próximos de Deus. Tinham 3 pares de asas, duas cobriam as pernas, com duas voavam e embora a Wikipédia diga que com as outras duas cobriam o rosto, nas imagens que o google mostrou estas duas últimas asas estão colocadas para cima, em direcção oposta à das pernas.

Percebi melhor o sentido de “um ar seráfico”, é uma espécie de Nirvana, quem está tão perto de Deus não deve desejar mais nada. Muitas vezes os serafins são representados com asas vermelhas para dar a ideia que estão muito quentes dada a proximidade do fogo divino mas não é o caso destes serafins azulados.

Este artigo “The Seraphim Mosaic in Hagia Sophia” onde fui buscar as 3 imagens seguintes, traz muita informação sobre o tema mostrando um mosaico de um dos serafins antes do restauro e também com uma estrela no meio das asas


No texto refere que as autoridades do museu da Aya Sophia comunicaram em 2009 (6 anos depois da minha visita) que tinham removido a estrela que tapava a cara de um dos serafins, conforme a imagem seguinte


mostrando ainda uma pessoa ao pé do mosaico, para dar uma ideia da sua dimensão


Fiz uma busca no Google imagens com a sequência (THE SIX WINGED ANGEL MOSAIC) em que me apareceram muitos serafins além dos da igreja de Santa Sofia, como por exemplo o que mostro a seguir que fui buscar a este sítio


e que tem as 6 asas, todas com uma boa parte de cor vermelha, e ainda esta


Tive um bocadinho de dificuldade em encontrar representações escultóricas de serafins mas encontrei esta numa igreja inglesa em Padstow. England. Little Petherick, St. Petroc Minor.


Não me lembro de ver serafins em igrejas em Portugal.

Neste site tem também fotos muito interessantes sobre Istambul e o interior da igreja de Santa Sofia.

E fiquei a pensar que com tanta pluma a cobrir o corpo quase todo não admira que os bizantinos se tenham interrogado sobre qual seria o sexo dos anjos, sem terem conseguido chegar a uma conclusão.

2016-02-01

O filme “Faraó” de Jerzy Kawalerowicz


Há muitos anos, penso que no Cineclube Universitário, que passava uns filmes normalmente deprimentes e chatos nos anos 60 do passado século, vi um filme sobre um Faraó do antigo Egipto que me agradou.

Tratava da luta pelo poder entre um jovem faraó e a classe dos sacerdotes.

Quando começaram a aparecer os DVDs, por qualquer motivo (talvez por existirem muitos posts neste blogue que aparecem quando se procura Egipto)  lembrei-me do filme e andei à procura dele na internet. Sobre o filme falam bem na Wikipedia, de onde tirei a imagem seguinte


e noutros sítios como o IMDB (http://www.imdb.com/title/tt0060401/). Foi realizado por  Jerzy Kawalerowicz em 1966 e chegou a ter uma nomeação para Óscar. Como o filme é falado em polaco tive receio de adquirir um DVD, sem ter a certeza de quais as legendas disponíveis, e acabei por escrever o nome do filme num papelinho que juntei a outros com variadas tarefas pendentes.

Em meados de Janeiro passei pelo papelinho, vi na internet que existia um DVD com uma versão de 184 minutos mas com imagem de má qualidade e outra versão de 145 minutos que era classificada como abreviada de forma inadmíssível. Entretanto descobri que existia uma versão disponível no Youtube, que pode ser acedida através da imagem que segue





com 145 minutos de duração e com a qual, não sabendo eu se há várias dezenas de anos vi esta ou a mais comprida, fiquei de qualquer forma muito satisfeito.

De tal forma que fiz o download do filme a partir do Youtube, a versão com definição de 854 x 480 pixels ocupa-me cerca de 600Mbytes no disco do PC. Por motivos não completamente claros lembrei-me de traduzir as legendas em inglês para português.

Quem estiver interessado nos ficheiros de legendas poderá encontrá-los aqui 

Para carregar directamente as legendas em português:
- PHARAOH - Jerzy Kawalerowicz (145min).srt
ou em inglês:
- PHARAOH - Jerzy Kawalerowicz (145min)_EN.srt

basta carregar o ficheiro .srt para a mesma pasta onde se colocou o ficheiro .mp4 resultante da transferência do Youtube para o PC. O ficheiro .mp4 e o .srt têm que estar na mesma pasta e ter o mesmo nome. Estes ficheiros. srt têm apenas caracteres ASCII, podem ser vistos com o Notepad e a estrutura do conteúdo é óbvia.

Para ver o filme com legendas usei o Media Player Classic mas existem muitos programas gratuitos disponíveis na internet para esse efeito.