2016-10-30

Línguas da China e idioma oficial





No post anterior manifestei a minha perplexidade pelas diferenças de opinião sobre o estatuto do cantonês relativamente ao mandarim padrão ("standard chinese" na versão inglesa desta entrada da Wikipédia), a língua oficial da República Popular da China desde 1956, activamente promovida desde essa data.


A promoção deste idioma oficial desde essa data favorecerá a unidade da China e torna possível o uso uniforme de caracteres latinos (os escolhidos pelo governo) para representar de forma escrita o idioma oficial.


Nos artigos da Wikipédia referidos acima, versão curta em português, mais completa em inglês, vem um mapa que copiei para aqui.


Às vezes uma pessoa  ao falar de vários países e ao usar a mesma palavra "país" para realidades tão distintas  pode perder a noção de que um país como a China, com 1300 milhões de habitantes não é como Portugal 130 vezes maior, é algo de natureza diferente, talvez mais como a Europa mas sem ter tido um imperador.


É assim natural a existência de grande variedade linguística nesse país tão grande.


Quanto às diferenças entre o cantonês e o mandarim encontrei este blogue muito interessante escrito por uma brasileira que vive há uns anos na China, que aqui refere um video do Youtube abordando essas diferenças.




Pelo que percebi do filme o cantonês oficial escrito é praticamente idêntico ao mandarim padrão (se bem que foneticamente bastante diferente) mas o cantonês coloquial mesmo escrito é muito diferente do mandarim padrão e por vezes mutuamente incompreensível.

Estes temas têm uma complexidade incompatível com um blogue mas mostrei, por assim dizer, a ponta do iceberg.


2016-10-29

Os ideogramas chineses revisitados


Desde que visitei Macau em 1990 que me interrogo sobre qual será a razão para os chineses manterem uma forma de escrita tão complicada.

A melhor explicação que encontrei até agora foi que tiveram inegável sucesso na normalização de um conjunto de símbolos usados na escrita por toda a China e que esse sucesso foi também a razão para não mudarem. Quando uma pessoa vê as críticas que apareceram em Portugal sobre o “Acordo” ortográfico de 1990, do qual embora eu discorde reconheço tratar-se de uma alteração pequena, é fácil imaginar a dificuldade em alterar uma escrita muito mais complexa, normalizada com sucesso e grande esforço numa área geográfica enorme, numa altura em que os meios de transporte eram muito lentos.

Na Europa o latim permaneceu a língua da Cultura e da Ciência durante centenas de anos em que quase só o clero sabia ler e escrever. Na China esse papel era desempenhado pelos literati, administradores do império, guardiões da cultura e provavelmente da contabilidade, que não só teriam pouco entusiasmo em alterar uma escrita que tinham aprendido com tanto esforço, como poderiam mesmo pensar que era melhor mantê-la complicada para manter os letrados longe da crítica da generalidade da população.

Esse comportamento dos letrados teria alguma analogia com a atitude da igreja católica que considerou durante muito tempo perigoso que os laicos tivessem acesso directo aos textos sagrados da Bíblia, sem uma autoridade eclesiástica de permeio para fazer a sempre necessária interpretação do que estava escrito.

O movimento protestante na Europa caracterizou-se, entre outras coisas, pela importância dada ao acesso directo à Bíblia pelos crentes, favorecendo assim a alfabetização do povo e uma menor dependência dos cristãos protestantes face à autoridade do clero.

No livro “The story of Writing” que referi em posts anteriores lê-se que no antigo Egipto existiu um alfabeto simples que foi abandonado pelos hieróglifos. Penso que também o clero egípcio seria muito cioso dos conhecimentos que ia adquirindo e que não estaria interessado na alfabetização em massa da população.

Um dos problemas mais difíceis duma escrita ideográfica está na ordenação dos caracteres pois a ordem alfabética não pode ser usada. Os dicionários existentes classificam os caracteres em várias classes, cada uma com centenas ou milhares de elementos, o que acba por ser uma ajuda fraca e difícil pois existem sempre casos em que um carácter poderá pertencer a mais do que uma dessas classes. A certa altura começou-se a ordenar os caracteres, provavelmente dentro de cada classe, pelo número de “pinceladas” (strokes) que o constituem, dizem que é frequente ver chineses a usar os dedos para contar esse número de pinceladas que pode chegar a 33 para caracteres mais complicados. Refiro “pinceladas” e não traços porque, além de na caligrafia clássica se usarem pincéis e não canetas de aparo, muitos ideogramas são constituídos por elementos com a forma de linhas com 2 ou mais segmentos de recta.

Uma vez num almoço com chineses, em que eu lhes mostrava meia dúzia de caracteres que sabia desenhar, uma chinesa disse-me que eu “desenhava” (draw) os caracteres em vez de os “escrever” (write), dado que nem fazia os traços na ordem pré-estabelecida, nem os ligava de forma contínua quando essa ligação existia. Mesmo para saber quantas pinceladas constituem um dado carácter é preciso conhecer as regras de os escrever.

No livro “The story of writing” refere-se que é provável que a computerização das sociedades modernas aumente a pressão para os chineses abandonarem os ideogramas, dados os desafios de representação destes em comparação com as letras do alfabeto. Tenho dúvidas sobre a validade desse argumento dado que os equipamentos de informática têm aumentado imenso o número de pontos (pixels- picture elements) disponíveis para representações gráficas. Por outro lado, o aparecimento de aplicações para identificar ideogramas a partir das pinceladas que os constituem (como por exemplo esta , que referi aqui ) tornam fácil a identificação de caracteres, mesmo para um principiante como eu.

Com a tomada de consciência pelos chineses, sobretudo após a guerra do ópio (1839-1842), que já não eram a civilização mais avançada do planeta, alguns deles interrogaram-se certamente sobre as vantagens de adoptarem uma escrita alfabética.

Só depois das enormes convulsões por que passou a China no século XX, foi possivel aprovar um projecto de romanização dos caracteres da língua chinesa,.

Segundo o livro que mostro aqui ao lado de um autor chinês,
em 11/Fev/1958 (11 anos depois da proclamação da R.P.C (República Popular da China em 1949) foi aprovado o projecto Pinyin, consistindo na transcrição fonética do Mandarim, a língua de Beijing falada pela maioria (70%) dos chineses.

Tem havido um esforço para que todos os chineses falem mandarim, por exemplo em Macau em 1990 a maioria da população falava apenas cantonês não compreendendo o mandarim.

Neste livro referem a existência de 8 dialectos principais da língua chinesa (em que incluem o cantonês) , enquanto que em “The story of writing” chamavam aos dialectos “regionalects” dando a ideia que abrangiam uma região grande em vez de estarem localizados, e eram verdadeiras línguas com um ascendente comum, como as línguas latinas da Europa, por exemplo o português, o espanhol e o francês.

Enquanto Alexandre Li Ching afirma que falantes de cantonês e de mandarim se entendem através da escrita (os que sabem ler e escrever), Andrew Robinson afirmava que tal se tratava de um mito e que este entendimento era impossível. Não estou em condições de avaliar quem estará mais próximo da verdade, choca-me poderem existir opiniões tão diferentes sobre este tipo de assunto. Posso contudo testemunhar que usei com sucesso o símbolo (Chū) em Macau para perguntar a direcção da saída no jardim Luís de Camões, se bem que seria mais correcto usar os dois símbolos 出口 (Chūkǒu) em que o segundo significa “boca”. A pessoa a quem perguntei disse umas palavras incompreensíveis mas apontou com o dedo ou a mão qual a direcção conveniente. A escrita serve portanto para algum entendimento mas talvez apenas em níveis básicos. Notar a propósito deste exemplo que existe na língua chinesa uma tendência para usar menos monossílabos, este é um caso típico, um bocado semelhante a dizer em português “porta de saída” em vez de apenas “saída”. Esta tendência facilita o uso do pinyin diminuindo a homofonia muito frequente na lingua chinesa.

A propósito da escrita poder servir para compreender línguas afins lembro-me dum episódio ocorrido há dezenas de anos em França quando um francês referiu uma “libélule” e logo a seguir tentou explicar-me do que se tratava. Ficou surpreendido (provavelmente o meu francês inspirava pouca confiança) quando lhe disse que sabia muito bem do que ele estava a falar porque em português o nome era muito parecido.. Perguntou-me então como se pronunciava em português e quando eu disse “libélula” achou que o som era muito diferente. Constato também que os colegas espanhóis com quem falava no meu portunhol tinham muito mais facilidade em compreender o português escrito do que o português falado.

E depois de nos admirarmos por na China, um sítio tão exótico, as pessoas de regiões diferentes não se entenderem falando mas entenderem-se escrevendo, constatamos que afinal se passam situações muito parecidas entre os portugueses e os seus vizinhos espanhóis!

Citando o livro de Li Ching, “o Comité para a Reforma da Escrita Chinesa elaborou um projecto que foi publicado pelo Conselho de Ministros da R.P.C. em 28/Jan/1958 e que consiste numa lista de 515 caracteres simplificados e de 54 elementos constitutivos cuja composição simplificou indirectamente todos os caracteres integrados. Até 1994 tinham sido simplificados mais de dois mil caracteres. É esta actividade que está na origem da existência das línguas “Chinês (Simplificado)” e “Chinês (Tradicional)” no Google tradutor.

Por exemplo a palavra “porta” é representada no chinês tradicional por “” fazendo lembrar uma porta dum saloon do farwest, enquanto no chinês simplificado é “”. Em pinyin ambas designam-se por “Mèn”. Por azar este era um dos pouquíssimos ideogramas que eu conhecia porque Macau, que em pinyin se diz “Aomen”, se escrevia “澳門” e na versão simplificada ficou “澳门”. Porque chamamos “Macau” a uma terra que os chineses chamam “Aomèn”? Não consegui descobrir.

Os sítios onde se continua a usar o chinês tradicional são Taiwan e Hong-Kong, além provavelmente da diáspora chinesa, mostrando mais uma vez a importância do poder político na definição da ortografia, como se constatou no “Acordo” ortográfico de 1990 que aumentou o número das variantes ortográficas do língua portuguesa em vez de o diminuir como era seu objectivo declarado.

Este assunto é duma vastidão difícil de compatibilizar com um ou mais posts dum blogue pelo que vou ficar por aqui.

Tentando resumir o que aqui foi dito, julgo muito positivo o esforço feito pela China no projecto pinyin e na simplificação dos ideogramas. Isso facilitará a alfabetização de todos os chineses. A tarefa é gigantesca e demorará certamente muito tempo. Espero que tenham sucesso.

Quem quiser aprender a língua chinesa em Portugal poderá começar pelo Instituto Confúcio.


Adenda: encontrei um filme no Youtube que explica as diferenças entre o cantonês e o mandarim, que refiro no post seguinte deste blogue.

2016-10-21

Loon, em foto e estilizado


Recebi num PowerPoint esta imagem


que encontrei na net aqui.

Trata-se portanto de um "Loon" flutuando com um bébé descansando no dorso. Frequentemente o Google tradutor não tem traduções fiáveis para animais e para plantas. Além dos dicionários em papel e online, outra das formas de encontrar traduções de palavras de uso mais restrito é recorrer à Wikipédia que muitas vezes além das versões em inglês tem também versões em português.

Em português estas aves aquáticas chamam-se Mobelhas, da família das Gaviidae, ficando a saber que estas aves habitam latitudes maiores do que as portuguesas mas algumas são observáveis cá durante as migrações.

A foto lembrou-me esta imagem linda do Charley Harper



cujas obras mostrei em vários posts. Na Wikipédia diz que é habitual estas aves deslocarem-se na água com os filhotes sobre o dorso, como se vê na foto e na imagem de Charley Harper.

Esta imagem intitula-se Clair de Lune, um pequeno jogo de palavras de Loon (a ave) com Lune (a lua) e com Moon.

Depois descobri aqui esta Loonrise (nascer de lua/ de loon)


e para finalizar este Blue Loon:





Marília Gabriela e Leandro Karnal


Sou alérgico ao conceito de "resistência à mudança", não tenho ouvido falar na "resistência à estabilidade", que também existe, mas gostei de ouvir estes dois conversar:






2016-10-12

Uma história da escrita (2)


O livro de que falei num post anterior continua pelas teorias da leitura e sobre a eterna discussão entre a importância relativa das imagens das letras e dos sons associados às palavras que elas  representam. Conheci pessoas que quando liam (em surdina, engraçada esta palavra surdina) moviam sempre os lábios, como se estivessem a pronunciar as palavras que liam.

O livro fala dos fonemas e da dificuldade da composição das palavras por letras. O Bernard Shaw, insatisfeito com a falta de especificação da língua inglesa escrita de como cada palavra deve ser pronunciada, chegou a propôr um alfabeto com 40 símbolos.

Lembro-me de um inglês me dizer que os seus colegas achavam graça à forma como os portugueses pronunciavam “bitch” e “beach”, sendo a maioria destes incapaz de pronunciar estas duas palavras de maneira diferente.

Existe uma notação muito exacta para caracterizar os fonemas de uma língua, nos dicionários aparece a transcrição fonética de cada palavra. Essa transcrição fonética não é usada como forma escrita de uma língua porque a sua exactidão obrigaria a que variações regionais de pronúncia fossem introduzidas na língua escrita, por vezes mesmo pessoas da mesma região, veriam uma mesma frase expressa de forma escrita com sequências diferentes de símbolos. A transcrição fonética que aparece nos dicionários será a forma mais frequente (ou mais culta) da pronúncia de cada palavra.

A introdução das vogais na escrita foi feita pelos gregos, por exemplo em árabe e em hebraico as vogais não são normalmente representadas, à semelhança de outras línguas antigas. O autor apresenta então este texto (em inglês) em que omitiu as vogais:

“nglsh cn b rd wtht vwls, bt thr r cnsdrbl dffclts”

tendo eu feito uma frase equivalente em português:

“Prtgs pd sr ld sm vgs ms xstm dfcldds cnsdrvs”

No final deste post dou uma interpretação possível destas duas sequências de consoantes que não garanto que sejam as únicas.

O livro refere ainda que as letras do nosso alfabeto não representam apenas sons, sendo também usadas como representações de conceitos (ideias ou palavras). Por exemplo as letras I, V, X, L, C, D, M representam quantidades na numeração romana, o “o” serve de artigo definido, o “e” tem o mesmo papel do “and” em inglês, as letras servem ainda para representarem de forma abreviada diversas entidades nas fórmulas usadas designadamente na matemática, na física e na química. A letra “X” tem uma multiplicidade de significados.

A segunda parte do livro trata com bastante pormenor como foram decifradas escritas antigas que estavam extintas , a Cuneiforme, os Hieroflifos egípcios, a Linear B, a Maia, referindo ainda algumas por decifrar.

Na terceira parte são referidas as escritas actualmente usadas, quer no Ocidente quer no Oriente, a evolução e confusão que existe actualmente com a língua chinesa e a complexidade surpreendente da escrita japonesa, recorrendo esta última a uma mistura de ideogramas, importados da China mas usados muitas vezes com significado diferente do chinês, de um silabário (portanto fonético) e do alfabeto latino.

Sendo a língua principal o Mandarim, falado por 70% dos chineses, o livro defende a tese de que o que se chamam Regionalects ( dialectos falados em regiões ) são mais línguas do que dialectos, referindo o Yue (cantonês), Hakka, Min do Sul, Min do Norte, Xiang, Gan e Wu, adiantando que era um mito a possibilidade de falantes de cantonês e de mandarim se entenderem através da escrita.

Não tendo forma simples de confirmar esta tese, embora sabendo que falantes de Cantonês e de Mandarim não se compreendem a falar, fui verificar se no Google Tradutor existia o Cantonês, além do Chinês tradicional (escrita usada em Taiwan, Hong-Kong e talvez Macau) e do Chinês simplificado (usado na República Popular da China), constatando que o Cantonês ainda não está disponível no Google Tradutor. Depois perguntei no Google (Why there is no Cantonese in Google Translator) e entre várias considerações dizia-se que havia a intenção de o adicionar quando existissem condições. É possível que existam pressões políticas da RPC para que tal não aconteça, mas também pode acontecer que a adição do Cantonês seja inútil por a língua escrita ser idêntica à do Mandarim.

Falarei do chinês num próximo post, a propósito de outro livro.


E termino com soluções para as frases escritas acima apenas com consoantes, agora com as vogais:

“English can be read without vowels, but there are considerable difficulties”

“O Português pode ser lido sem vogais mas existem dificuldades consideráveis”



2016-10-10

António Guterres


Fui colega de turma do Guterres no 6º e 7º ano (agora o 10º e 11º) na sede do Liceu Camões, nos outros 5 anos frequentei o anexo do Areeiro desse mesmo liceu. Depois fui colega dele no IST, no curso de engenharia electrotécnica desde 1966 a 1971.

No liceu lembro-me de pensar que teria sido um excelente profissional quer nas letras quer nas ciências, tendo apenas limitações nas aulas de ginástica.

Eram evidentes nesse tempo as suas enormes qualidades e chocou-me a quantidade de declarações idiotas sobre as suas incapacidades produzidas por imensa gente, incluindo pessoas que a maior parte do tempo pareciam sensatas, quando num momento de maior tensão quando já primeiro-ministro não concluiu uma conta de cabeça.

Pensei em fazer aqui um elogio mas quando li o texto do Marcelo Rebelo de Sousa, publicado no jornal Expresso de 8 de Outubro de 2016, a propósito das sua escolha como Secretário Geral das Nações Unidas, achei que subscrevia praticamente tudo desta parte do texto:

« ...
António Guterres vinha com a fama de ser um aluno excepcional do Técnico, que já na altura era particularmente exigente. Era o melhor do curso dele. Era intelectualmente superior, muito inteligente em termos abstractos, com uma grande capacidade de conceptualização. Mas também era brilhante. Pode ser-se muito inteligente em termos abstractos e não se ser brilhante — ele era brilhante escrito e era brilhante falado. E era rápido. A certa altura houve documentos que fizemos para a SEDES em conjunto, e ele reescrevia esses documentos a um ritmo alucinante. Além da inteligência abstracta, tinha uma grande inteligência concreta, com uma sensibilidade à realidade social. O António Guterres fazia. Era um fazedor.

Por outro lado, é verdade que naquela altura na nossa geração havia um pano de fundo cultural apreciável, mas ele nalguns domínios tinha uma cultura invulgar. Na época havia uma clivagem muito grande entre os de letras e os de ciências, mas não era vulgar os de ciências terem essa formação e essa cultura [que Guterres tinha]. Lia muito, era adicto na leitura, lia sobre Direito, sobre História, sobre Geografia, com uma capacidade de leitura muito superior à minha, e muito rapidamente elaborava sobre aquilo que lia.

Tinha também uma grande sensibilidade económica e uma grande sensibilidade social. Era um conjunto de características que o tornavam diferente dos outros. Mas além disso, tinha um lado afectivo, que lhe saía naturalmente. Era uma pessoa muito simpática e que olhava para o lado positivo da vida. Dava-se com qualquer pessoa e tinha uma grande capacidade de entender os outros. Além disso, tinha uma energia brutal, autossustentada, uma genica e uma capacidade de resistência física e psíquica como a que ele mostrou outra vez, agora, nesta candidatura. A energia que ele tinha aos 20 anos era assim.

O que atraía no António Guterres era o somatório das suas características. Eu tinha amigos que eram pessoas excepcionais de inteligência abstracta, outros que eram pessoas excepcionais de inteligência concreta, outros que eram excepcionais na empatia. Ele fazia o somatório. Por isso há poucas semanas eu garanti que ele era o melhor de todos nós. Tinha um conjunto de características que faziam dele um líder. E era muito sedutor. A argumentar, a persuadir, a mobilizar, a motivar. Mesmo aquilo que mais tarde lhe foi apontado como uma característica negativa — ser melhor a pensar e a sentir do que a decidir — nessa altura não era minimamente perceptível. Como digo, era um líder nato.
...» ( )

Desejo-lhe muitos sucessos nas Nações Unidas.

2016-10-08

As línguas gestuais ou de sinais


No post anterior referi as línguas gestuais usadas pelos surdo-mudos para comunicação e o assunto suscitou a minha curiosidade, tendo começado por este sítio.

À primeira vista parece que se poderia ter definido uma linguagem gestual universal para os surdo-mudos comunicarem entre si, dado que um surdo-mudo não tem acesso à diversidade das línguas orais.

Na realidade existem actualmente no mundo várias linguagens gestuais de surdo-mudos porque, à semelhança das línguas faladas, houve um desenvolvimento paralelo destas línguas em vários locais que não interagiam ou tinham uma interacção fraca. Nenhuma  destas  línguas mima ou nasce da  língua oral do país/região mas sim da história da comunidade surda que a utiliza.

Embora tenham existido linguagens gestuais desde há milénios, existindo uma referência de Sócrates no século V A.C., não existe documentação durante muito tempo sobre como eram essas línguas, existindo apenas alguns “alfabetos manuais” em que a cada letra é associada uma posição da mão, para possibilitar dentro da linguagem gestual fazer referências à língua escrita usada no país do surdo-mudo.

Esta escultura duma escola de surdo-mudos em Praga


comunica a mensagem: “A vida é bela, sejam felizes e amem-se uns aos outros!”

No mapa a seguir, tanbém do mesmo artigo da Wikipédia constata-se que existem vários pares de países que, usando a mesma língua oral, optaram por línguas gestuais mesmo de diferentes famílias como por exemplo (Portugal, Brasil), (Reino Unido, Estados Unidos) e (Espanha, México).


A LGP (Língua Gestual Portuguesa) faz parte da família da Língua Gestual Sueca. Aprendi aqui que “A Língua Gestual sueca é considerada a língua mãe da LGP uma vez que no século XIX o rei D. João VI, a pedido de sua filha, D. Isabel Maria, mandou chamar a Portugal o professor sueco Per Aron Borg que havia fundado em Estocolmo um instituto para a educação de surdos. Assim, em 1823, cria-se em Portugal a primeira escola para surdos onde leccionaram, a princípio, Per Aron Borg e seu irmão Joahan Borg. Por essa razão, considera-se a língua mãe da LGP a LG sueca, porém, evidentemente, que em Portugal já se utilizaria uma língua gestual que, certamente, também foi usada nessa escola para o ensino de surdos”.

Em 1880 realizou-se um congresso em Milão sobre o ensino dos surdo-mudos em que prevaleceu a tese de que deveria ser proibido o ensino e uso das línguas gestuais pois existiam métodos para integrar os surdo-mudos nas línguas orais, quer através de técnicas de ensino da fala, quer usando a leitura dos lábios, evitando-se assim a formação de guetos. Li em vários sítios que neste congresso predominavam largamente os “ouvintes”, estando os “surdos” fracamente representados.

É interessante esta  simetria do “nós” e “eles”, tomei agora consciência de que além de ser “ouvinte” de programas de rádio possuo também esse adjectivo para a comunidade dos “surdos”. Simetricamente a comunidade dos “ouvintes” usa o adjectivo “surdos” para aqueles que não ouvem.

Em 1980 realizou-se um congresso em Hamburgo onde foram contestadas todas as conclusões do congresso de Milão de 1880.

Nos termos da alínea h) do n.º 2 do artigo 74.º da Constituição da República Portuguesa, «na realização da política de ensino incumbe ao Estado (...) proteger e valorizar a língua gestual portuguesa, enquanto expressão cultural e instrumento de acesso à educação e da igualdade de oportunidades». Deste modo, desde 1997, a Língua Gestual Portuguesa passou a ser uma das línguas oficiais de Portugal, junto com a Língua Portuguesa e o Mirandês.

Uma história da escrita


Provavelmente porque falo muito sobre os ideogramas chineses e o grande número de alfabetos actualmente em uso, um amigo emprestou-me um livro muito interessante sobre estes temas.

Trata-se da primeira edição no Reino Unido (1995) de “The Story of Writing” de Andrew Robinson, com paperback em 2000 e reimpressão em 2003. Na net só descobri a imagem ao lado da 2ª edição.

Neste wiki diz que Andrew Robinson frequentou o colégio de Eton, interessou-se por Química e depois estudou na School of Oriental and African Studies em Londres. Foi editor literário to “Times Higher Education Supplement” e é agora escritor a tempo inteiro.

O autor segue uma corrente linguística recente considerando incorrecto o termo “ideograma” para os caracteres chineses, preferindo o termo “logograma”, sublinhando o papel fonético que cada carácter também tem. A lista que segue, ordena qualitativamente o carácter mais fonético ou mais “logográfico” das diversas línguas:

Fonografia pura (grafismos representam sons) (Phonography em inglês)
- Notação fonética
- Italiano
- Inglês
- Japonês
- Chinês
- Códigos criptográficos
Logografia pura (grafismos representam palavras ou frases) (Logography em inglês)

Nas línguas ocidentais o Inglês será o menos fonético, nele a forma escrita de uma palavra dá uma indicação pouco precisa de como se pronuncia.

O livro refere a(s) linguagem(s) dos surdos/mudos, refutando alegados preconceitos:

1) que a maior parte dos sinais não são ícónicos representando conceitos como coelho, árvore, etc, sendo abstractos “como se fossem letras”;
2) não são independentes da fala, um utilizador da ASL(American Sign Language) não consegue comunicar com um utilizador da Língua de Sinais Chinesa;
3) não são línguas primitivas, alguns dos gestos representam palavras, sendo a estrutura destas línguas bastante eficaz mas com uma estrutura bastante diferente das línguas faladas.

Parece-me que esta referência às línguas dos surdo-mudos se destina em parte a refutar preventivamente o carácter ideográfico da língua chinesa e de seus vizinhos coreano e japonês.

Na realidade as línguas de sinais (ou gestuais) são influenciadas pela língua (oral e escrita) usada pelos “ouvintes” (os que não são surdo-mudos) das comunidades em que nasceram mas a sua autonomia dessas línguas é evidenciada pelo facto de em países como Portugal e o Brasil em que se usa a mesma língua portuguesa, o LIBRAS (Lingua Brasileira de Sinais) e a LGP (Língua Gestual Portuguesa) são mutuamente incompreensíveis para os respectivos utilizadores. Mas estas línguas serão objecto do próximo post.


2016-10-05

Salada de camarão com abacate


Com este calorzinho ainda vai bem esta salada




Em cada prato: leito de alface, 10 camarões (100g), meio abacate, 5 metades de tomates-cereja, metade de um ovo cozido fatiado.

Depois da foto, já na mesa, cada um colocou o molho cocktail comprado no supermercado.

2016-10-03

Prédio deslizante na rua do Ouro


No passado sábado fui à baixa fazer turismo, dizem que Lisboa está na moda e também quis aproveitar, já que me é tão fácil fazer turismo em Lisboa.

Surpreendeu-me a pintura "trompe l'oeil" do tecto da igreja do convento de S.Pedro de Alcântara, parece muito existir ali relevo, as sombras estão muito bem, só não eram consistentes com as fontes de luz que existiam na altura


Continua-me a surpreender a quantidade de turistas que encontrei no trajecto partindo do Rato, passando pelo Príncipe Real, S.Pedro de Alcântara, Chiado, R.Garret, R.do Carmo e Rua do Ouro onde vi o que parecia um prédio de 7 ou 8 andares a deslizar no fundo da rua como se vê na imagem


e que era um barco de cruzeiro dirigindo-se para o mar.


2016-10-02

Ponta de João d'Arens


No post anterior mostrei esta rocha 



dizendo tratar-se de "... a Ponta de João d'Arens que termina o conjunto rochoso que se avista da Praia da Rocha quando se olha para Oeste".

Coloquei agora legenda numa foto que tirei (em 2012-01-15 11:31) olhando para Oeste na Praia da Rocha, para marcar a posição deste rochedo





2016-10-01

João d'Arens


Recomeço com a última imagem do post anterior


mostrando depois a Ponta de João d'Arens que termina o conjunto rochoso que se avista da Praia da Rocha quando se olha para Oeste

esta foto tirei à sombra duma árvore para ver se a luz do sol não entrava pelo telemóvel adentro


 outra vista da rocha de grés


e aqui na vertical com uma nesga de mar ao fundo



mar que enche aqui a imagem