2017-08-02

As Sultanas


Na minha primeira viagem à Índia em 1990 tomei conhecimento da existência dos livros de viagem “Lonely Planet”, criados por um casal de autralianos que começou por viajar por sítios baratos no Extremo Oriente e que com o sucesso obtido expandiu o número de países cobertos pela colecção, cujas publicações devem hoje cobrir o mundo todo.

Além dos conselhos de viagem propriamente ditos os livros incluem sínteses históricas de enorme qualidade, com um estilo bem disposto mas descrevendo o essencial, que tenho lido sempre com muito interesse em cada livro que tenho comprado.

Foi talvez aí que tomei conhecimento das dificuldades para encontrar sucessor nos impérios Otomano, da Pérsia e da Índia, situação claramente devida à existência de um harém com numerosas concubinas e numerosos herdeiros potenciais da coroa, dos quais o soberano escolheria um.

Os primogénitos corriam muitas vezes o risco de serem preteridos por filhos de concubinas mais jovens e mesmo que não estivessem interessados em suceder ao pai viam-se na obrigação de se defender dos irmãos ( e vice-versa) que os viam como uma ameaça potencial que precisava de ser eliminada.

Quando existe um harém, a situação de esposa favorita é quase sempre transitória, a própria existência do harém constitui uma pressão social para que o governante não se fixe numa única esposa. Daí a importância da frase “mãe há só uma”, a mãe do sultão, lugar almejado por boa parte das mulheres do harém.

Percebe-se assim melhor as vantagens para os cortesãos menos ambiciosos do modelo de sucessão ocidental em que o direito do primogénito ao trono era muito poucas vezes posto em causa, os cortesãos não tinham que tomar partido por um dos pretendentes, evitando assim o risco enorme de escolherem o lado perdedor, perdendo o lugar na corte, a riqueza e provavelmente a vida. No Ocidente bastava um primogénito, desejavelmente alguns irmãos legítimos para o caso de doenças mortais e os filhos bastardos fora do concurso para a herança do trono.

Lembrei-me disto tudo julgo que na sequência dos comentários recentes sobre os filhos do Cristiano Ronaldo criados em barrigas de aluguer e nalgumas analogias e diferenças entre o famoso jogador e os sultões do império Otomano.

Deixo a seguir uma imagem de uma das numerosas salas do harém no palácio de Topkapi em Istambul




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