2018-02-22

A propósito do conceito de país


Há uns anos frequentei na REN aulas de introdução à língua chinesa, entretanto a professora que era chinesa regressou ao seu país e soube em Maio/2017 que estava a dar aulas na Universidade de Wuhan, uma cidade com 10,6 milhões de habitantes (em 2015) e capital da província de Hubei.

No mapa administrativo da RPC (República Popular da China) que obtive na internet em Mar/2011 e que mostro a seguir vê-se a localização da província de Hubei, na mesma latitude de Xangai.


Na altura impressionou-me que uma cidade de que nunca ouvira falar tivesse uma população com um pouco mais de 10 milhões de pessoas, um número praticamente idêntico à população total de Portugal e fui ao Google Maps ver o mapa da Cidade


Como os limites do município de Wuhan estavam marcados no mapa desenhei um contorno verde no Power Point sobre os limites do município como se vê a seguir


depois obtive um mapa da região de Lisboa na mesma escala do mapa que mostrei da cidade de Wuhan


e sobre esse mapa de Lisboa coloquei o contorno verde do município de Wuhan que desenhara


Repito aqui o texto na caixa verde da figura:
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Rectângulo tem 7.2 x 12 cm (valores no “Format Autoshape”), 1cm corresponde a 10 km, logo rectângulo tem área de 72 x 120km= 8640km2, valor parecido com a área indicada na Wikipédia (https://en.wikipedia.org/wiki/Wuhan ) de 8494km2.

Nesta área de Lisboa os limites urbanos de Wuhan conteriam cerca de 2 milhões de habitantes, 1/5 da população de Portugal que são 10.2 milhões, muito parecida à da cidade de Wuhan onde vivem, segundo a Wikipédia, 10.6 milhões
»


Constata-se assim a enorme ambiguidade do conceito de "país", uma palavra que se usa para designar Portugal, uma nação que constitui uma unidade política com 10 milhões de habitantes e exactamente a mesma palavra para designar a China uma nação que também constitui uma unidade política mas com 1300 milhões de habitantes, uma população duas ordens de grandeza maior do que a população de Portugal.

A professora informou-me ainda que Wuhan é uma cidade "imigrante", quer dizer há cada vez mais pessoas de outras províncias que vão para lá estudar e trabalhar. Por isso, o mandarim é sempre a língua dominante. Agora o governo de Wuhan quer captar duzentos mil licenciados graduados das universidades locais a trabalhar na própria cidade por ano.

2018-02-21

A dificuldade da imprensa económica


Não sou apreciador dos artigos do Prof. Daniel Bessa no suplemento de Economia do jornal Expresso mas, talvez por vir na primeira página desse suplemento e ser curto acabo por lê-lo com alguma frequência.

O professor normalmente critica e, dependendo da sua posição ideológica em relação aos temas e aos eventuais responsáveis, ou refere um aspecto da economia de Portugal, uma situação ou uma evolução positiva e afirma depois que poderia ter sido melhor, ou refere uma crítica a uma situação ou evolução negativa e afirma que não existia alternativa ou que poderia ter sido pior. Há aqui uma componente de “treinador de bancada” de pessoa que prefere comentar a fazer mas cada qual tem as suas preferências.

No artigo do passado sábado (17/Fev/2018) o professor começa por um discurso auto-referente alertando o leitor sobre os perigos que o espreitam neste tipo de publicações pois “têm um autor, quase sempre com interesse próprio”  como entre outras coisas por exemplo “...para votar num partido, admirar um gestor ou um político”. Trata-se portanto duma parágrafo análogo ao famoso paradoxo de Epiménides, um cretense que disse que todos os cretenses eram mentirosos. Neste caso o professor, autor do artigo num jornal de economia, avisa que nesses jornais os autores dão informação incompleta ou distorcida, com objectivos não declarados. Li portanto cautelosamente o resto do artigo, que mostro na imagem à direita, para verificar se a comunicação apresentada (já ciente que não se tratava de informação “pura”) estaria muito distorcida.

Sabe-se que as estatísticas se devem rodear de muitos cuidados pois os números são entidades que, embora permitam uma síntese potencialmente muito melhor do que a convicção inabalável de um Magister, não conseguem transmitir a totalidade do real. Por isso é prudente recorrer a mais do que um critério numérico para caracterizar uma situação.

No caso do crescimento económico em 2017, Portugal cresceu 2,7% enquanto o conjunto da UE (União Europeia) cresceu 2,3%. Desta informação conclui-se que:
- o crescimento de Portugal deu-se num contexto de crescimento da economia europeia;
- o crescimento de Portugal foi maior do que a média europeia;
- ocorreu portanto uma convergência da economia de Portugal com a Europa.

Consultando estatísticas anteriores pode-se ainda dizer que desde a nossa integração no euro é o primeiro ano em que convergimos com a UE e ainda que foi o maior crescimento da economia portuguesa “neste século”, o que, sendo verdade, é uma frase que parece publicidade, uma forma mais neutral seria “nas últimas duas décadas”.

Não me parece assim que, à parte a referência a um século que conta apenas 17 anos, a informação que “em 2017, Portugal cresceu 2,7% enquanto o conjunto da UE (União Europeia) cresceu 2,3%” possa ser considerado como “adornando o barco em determinado sentido”.

Não me pareceria mal que o autor referisse outros aspectos da economia portuguesa, tais como a dívida, o investimento, a diáspora que não regressa, o emprego, a despesa pública, a balança comercial, etc., pois a situação do país não pode ser caracterizada apenas pelo crescimento económico.

Contudo o professor foi buscar o conceito de “país”, particularmente desadequado como unidade de comparação de realidades económicas em que o país não possa ser considerado como uma realidade homogénea. Sabe-se que na maior parte dos países europeus existe bastante heterogeneidade entre as suas regiões e existem regiões dentro dos países grandes que são maiores do que países pequenos da UE.

Neste sítio do Eurostat mostram a população de cada país, estimada para o dia 1/Jan, de 2006 a 2017. Nessa tabela consta que em Jan/2017 na Alemanha viviam 82,8 milhões de pessoas, no Reino Unido 65,8, na França 67 e na Itália 60,6, somando estes 4 países uma população de 276,2 milhões de habitantes, mais de metade da população dos 28 estados membros que era então de 511,8 milhões. Adicionando a este valor a população da Grécia de 10,7, a da Bélgica de 11,4 e da Dinamarca de 5,7 milhões obtemos um conjunto total de 304 milhões de pessoas (59,3% da população da UE) que vivem em países cujo aumento médio do PIB (Produto Interno Bruto) em 2017 foi inferior ao aumento observado em Portugal.

Não só esta comparação considerando a população dos países me parece significativa como a escolha de países como unidade para a comparação do indicador económico “crescimento anual do PIB em 2017” é uma forma enganadora de apresentar a realidade. Faz-me lembrar a boutade do Montenegro quando disse que Portugal estava economicamente melhor, os portugueses é que ainda não. Neste caso o jornal destaca em título que 19 países em 28 estão a crescer mais do que Portugal. E neste caso não diz que 60% da população da UE vive em países cujo crescimento foi inferior ao que se verificou em Portugal.

Bem avisou o professor que era preciso ler com cuidado os artigos dos jornais de economia. Este é mais um exemplo dum texto que tenta enganar o leitor se bem que com aviso prévio.

2018-02-17

O Nirvana como um caminho


Normalmente o Nirvana é considerado como um objectivo, um destino final, de ausência de desejo.

É estranho desejar-se a ausência de desejo e deve ser por isso que é difícil atingir o Nirvana. Julgo que um dos treinos é a meditação oriental em que se tenta esvaziar a mente de preocupações e tenta não se pensar em  nada, o que também costuma ser uma contradição nos termos.

Pessoalmente gosto de ter a mente ocupada e detesto estar em filas de espera, muito mal em pé, mas também mal sentado, caso não tenha um livro ou algum computador portátil para me distrair.

Mas existem dispositivos materiais, concebidos por ocidentais como neste caso seria de esperar, que nos ajudam a esvaziar a mente e rapidamente (para espíritos menos agitados) entrar em sono profundo. Trata-se desta cadeira concebida no atelier Le Corbusier por Charlotte Perriand


que já referi no post intitulado "Um caminho para o Nirvana" e da qual me lembrei ao ler um artigo da BBC referido como "The lazy way to improve your memory".

Nesse artigo referem estudos feitos por psicólogos que descobriram que após a apreensão duma informação nova, se deixarmos o cérebro com poucos estímulos exteriores e sem ser solicitado para resolver problemas pendentes, as delicadas conexões necessárias para implantar memórias são facilitadas, ficando facilmente acessíveis em solicitações futuras.

Dizem que o ideal é reduzir a iluminação evitando a escuridão total. O objectivo não é dormir mas também, caso se adormeça, a maior parte do efeito benéfico do repouso cerebral é preservada, os assuntos que tratámos imediatamente antes de dormir estão bem presentes na memória quando acordamos.

É um bocadinho irónica esta "instrumentalização" do Nirvana para a obtenção de uma boa memória mas digamos que um pouco de descanso sempre nos fez bem.

Dizem que os homens têm mais facilidade em não pensar em nada, os pescadores de cana serão uma uma das provas disso, mas as mulheres também conseguem, como exemplifica esta demonstrando a utilização da "Chaise-longue Le Corbusier-Jeanneret-Perriand"



2018-02-09

Caminhada nos Bosques


Acabei de ler outro livro de Bill Bryson, “A Walk in the Woods” e também gostei, sobretudo por confirmar de forma tão eloquente as minhas convicções sobre a incomodidade das grandes caminhadas, ainda para mais com uma mochila às costas com tenda, saco-cama, agasalhos, comida e água pesando cerca de 20kg!

Nesta pequena onda de frio que passou por Lisboa senti-me ainda mais confortável ao ler as descrições muito vivas da penosidade do início da caminhada, da chuva, do frio, da neve, da má comida e de toda a panóplia de experiências desagradáveis pelas quais passa este tipo de caminhantes.

Ainda por cima uma boa parte do caminho tem a vista obstruída por uma imensidade de árvores que faz com que a sensação de liberdade de estar num grande espaço com horizontes longínquos seja substituída por uma espécie de prisão num espaço fechado sem horizontes.

A cordilheira dos Apalaches corre aproximadamente paralela à costa leste dos EUA e em conjunto com as Montanhas Rochosas que seguem a costa Oeste, tornam mais difícil a influência moderadora do ar marítimo no clima do Midwest.

Por curiosidade fui ver no Google Maps o traçado do Appalachian Trail, que se estende por 14 estados, da Geórgia ao Maine e obtive este mapa onde referem 2180 milhas (3500km) de extensão do trilho.


Contudo, solicitando ao Google Maps para calcular a distância a pé desde o início do trilho dos Apalaches até ao monte Katahdin obtemos apenas 800 milhas (1280km), o que dá uma ideia do grau de divagação do trilho dos Apalaches entre o início e o fim do percurso.



Para fazer uma comparação com o território europeu para a distância de 3500km, segundo o mesmo Google Maps, seria preciso ir por bom caminho de Lisboa a Riga



embora se nos restringíssemos ao bom caminho com apenas 1280km acima referido, entre o início do trilho dos Apalaches na Geórgia e o monte Katahdin, nos bastasse ir de Lisboa até Carcassonne , no Sul de França


Fazendo as contas constata-se que o Google Maps considera que uma pessoa anda em média à velocidade de 4,8km/h, quer na América quer na Europa.

O Bill Bryson fez esta caminhada com outra pessoa, o que me parece da mais elementar prudência, para evitar que pequenos contratempos se transformem em grandes dramas. Depois de umas tantas semanas concluíram que já tinham andado bastante e que não  valia a  pena tentar fazer o trilho todo de uma só vez, passando então a fazer secções seleccionadas do trilho de vez em quando. Esta táctica tem a enorme vantagem de dispensar acarretar com a casa às costas durante a caminhada, tornando a actividade em si agradável e saudável como é possível e desejável que seja.

Tenho uns amigos que costumam fazer uns Caminhos de Santiago a pé, de manhã levam dois ou mais automóveis para o destino desse dia, deixam os carros lá e regressam num deles para o local do início da caminhada desse dia e ao fim do dia, quando chegam ao destino, voltam dois de carro ao ponto de partida  para buscar o carro que ficou para trás. Desta forma evitam andar a caminhar com mochilas pesadas.

Ficou-me na memória a descrição que fez de Centralia, uma povoação da Pensilvânia que teve que ser evacuada por estar sobre uma mina de carvão de antracite que ardeu durante décadas sem ninguém conseguir extinguir o incêndio. Recordo-me também da referência às condições difíceis para a agricultura na Nova Inglaterra e como os agricultores emigraram para o Midwest reduzindo a população nesses estados de onde partiram.

E de uma forma geral gostei muito da forma como o autor aborda os diversos assuntos que vêm a propósito durante as peripécias da viagem.

2018-02-06

Sobreiro Assobiador em Águas de Moura


Está a decorrer um concurso para escolher a Árvore Europeia do Ano. Embora não goste destas classificações em 1º, 2º, etc, o concurso serve para divulgar a existência de árvores espectaculares como este Sobreiro Assobiador

  

que vi neste sítio onde podem ir votar.

Desse sítio transcrevo:
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O Assobiador
O Assobiador deve o nome ao som originado pelas inúmeras aves que pousam nos seus ramos. Plantado em 1783 em Águas de Moura, este sobreiro já foi descortiçado mais de vinte vezes. Além do contributo para a indústria, é impossível quantificar o seu impacto na manutenção do ecossistema e no combate ao aquecimento global. Com 234 anos, o Assobiador está classificado como “Árvore de Interesse Público” desde 1988 e e inscrito no Livro de Recordes do Guinness como "o maior sobreiro do mundo"!
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